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 Manuel Alegre

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MensagemAssunto: Manuel Alegre   Manuel Alegre Icon_minitimeDom Nov 16, 2008 10:56 am

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"Não me admira que surjam novas forças políticas à direita e à esquerda"

Manuel Alegre 492251

João Marcelino (DN) e Paulo Baldaia (TSF)

Manuel Alegre.

É um poeta com numerosos prémios literários. Foi opositor do regime salazarista, fundador do PS, e é deputado por este partido. Foi também candidato presidencial e bateu o candidato oficial do PS, conseguindo um segundo lugar com mais de um milhão e cem mil votos. Disputou a liderança do PS em 2004, perdendo para José Sócrates, e é hoje um dos mais incómodos críticos do Governo, como se prova com as ideias que deixa nesta entrevista.

É expectável que apresente uma moção alternativa à de José Sócrates no próximo congresso do PS? Não, não, isso já disse que não fazia... Já fiz isso uma vez, para abrir um espaço de debate. Isso foi bom para o próprio José Sócrates, projectou o PS na vida pública, contribuiu até, estou convencido, para o próprio resultado que o partido obteve [nas eleições legislativas]. Mas há um tempo para tudo. Depois já fui candidato à Presidência da República... Há um tempo e uma idade para tudo.

Vai ao congresso discutir ideias?

Também é preciso dar lugar aos mais novos, sobretudo na vida partidária. É preciso que se criem alternativas. Uma das minhas preocupações é que não vejo isso acontecer nos congressos federativos.

Mas é no congresso que pode discutir a linha que está a seguir o PS?

Mas antigamente havia alternativas! Fui das primeiras direcções do PS, e o Mário Soares nunca teve, mesmo no período decisivo da democracia, em 75, as maiorias que outros secretários-gerais tiveram.

Porque o partido era mais democrático?

O partido era mais aberto, havia mais convicções, mais ideologia. As pessoas pensavam. Não tinham medo de pensar pela sua cabeça. Havia diferentes sensibilidades, diferentes correntes, ninguém tinha medo! Havia enfrentamentos. Lembro-me de discussões tempestuosas dentro do PS. É claro que todo o País e toda a sociedade viviam dessa maneira e as coisas projectavam-se assim dentro dos partidos..

Mas deixe-me insistir na pergunta: não é importante ir ao próximo congresso discutir as alternativas do PS?

Fiz aquilo que tinha a fazer em 2004. Teria muita coisa a contar sobre isso (sorriso), mas ficamos por aqui. Foi muito interessante o debate que travámos, e isso foi um bom treino até para o próprio José Sócrates, foi uma coisa muito animada que dignificou o PS. Mas agora há outros mais novos, as pessoas também têm de aprender que a política se faz com rupturas, se faz com risco, se faz com ousadia! É uma coisa que me preocupa na nova geração: aqueles que vêm das juventudes são muito programados, são muito prudentes, fazem contas a tudo.

Fazem contas aos lugares que podem ter no futuro?

Fazem contas aos lugares, fazem contas se é a altura própria ou se não é a altura própria... As coisas acontecem. Ou se tem um destino, ou não se tem um destino. E também se cria o destino. As coisas acontecem muitas vezes por inspiração e por revelação. Nunca programei ser candidato à Presidência da República, nem nunca esteve nos meus horizontes, ao contrário do que as pessoas...

Desculpe interrompê-lo, mas há quem diga que muitas das suas posições são pautadas com o cultivar desse espaço, para poder voltar a ser candidato à Presidência da República.

Mas estão enganados. São pessoas que pensam pela sua cabeça, mas estão enganados. Naquela altura fui porque havia uma forte corrente, como os resultados o demonstraram, nesse sentido, e porque entendia também que era um dever cívico fazê-lo, responder às solicitações das pessoas.

Falou num défice da oposição. Há quem diga que isso acontece porque o PS invadiu a direita, e portanto a oposição tem estado a fazer-se à esquerda. Acha que efectivamente as políticas do PS invadiram o território que outrora era do PSD?

O PSD, que é um partido que vive muito do poder, tem uma crise de liderança há muito tempo. Teve um grande líder, o dr. Sá Carneiro, depois o dr. Cavaco e podia ter tido uma líder que por um conjunto de razões ficou no caminho, que era a dr.ª Leonor Beleza, e foi pena para a democracia. O PSD tem tido um problema de liderança porque é um partido que não tem uma ideologia clara. Isso foi a sua fraqueza e também a sua força. Vive muito da força ou do carisma dos líderes, que não encontrou... E está hoje muito dividido...

Mas à esquerda a oposição está forte, ou não?

Penso que há um sentimento de esquerda no País, e há grandes descontentamentos. Penso que há movimentos sociais que ainda não tiveram uma expressão política. E quando falo da esquerda...

E o PS terá capacidade de virar à esquerda ainda?

Não é fácil. Infelizmente, não é fácil.

Se isso não acontecer, votará PS na mesma, em 2009?

Mas o problema é que o eleitorado do PS, grande parte do eleitorado do PS, é mesmo de esquerda, são trabalhadores! O dr. Francisco Van Zeller [presidente da Confederação da Indústria Portuguesa - CIP], com quem, aliás, tenho uma relação cordial, elogiou o Código do Trabalho, mas não é ele que vota PS, ele vota sempre à direita, não é? Ora, os trabalhadores, as pessoas da classe média...

E o senhor vota PS, ainda? A este tempo de distância das eleições...

Votei sempre PS. Em princípio, estando no PS, votarei PS.

Estando no PS?...

Pois, daqui até lá...

Já sentiu vontade de deixar o PS e passar a ser deputado independente, por exemplo?

Não, isso nunca faria. Passar a ser deputado independente não, sendo eleito pelo PS. Se deixasse de ser do PS...

Já aconteceu, dentro do PS e noutros partidos...

Sim, mas eu não faria isso.

Mas, não estando no PS, onde é que o senhor poderia estar?

Eu estou no PS. E estou no PS há mais tempo que a maior parte dos seus actuais dirigentes. Fui uma das pessoas que construíram este PS e que o enraizou na sociedade portuguesa. Os dirigentes do PS sabem isso muito bem, tanto que, quando tivemos um confronto - confrontos internos já não vale a pena porque já sabemos como é aquilo - nas urnas, na opinião pública, eles sabem qual foi o resultado, não devem ter esquecido.

A este tempo de distância, vê-se a participar numa campanha eleitoral ao lado do seu camarada José Sócrates?

Isso é um problema! Estou, digamos, num período de reflexão. Fui candidato às eleições presidenciais, tive aquela votação, não foi um milhão, foi mais de um milhão, foi um milhão e cento e trinta mil...

Peço desculpa pelo arredondamento [feito no lançamento da entrevista na rádio].

[risos] Foi um milhão e cento e trinta mil. E isso deu-me uma certa responsabilidade. Há muita gente que se volta para mim, e eu não sou a Santa da Ladeira, e me pede uma solução milagreira. Eu não tenho nenhuma solução milagreira no bolso, mas tenho uma responsabilidade cívica perante aqueles que confiaram em mim. Não posso envolver-me numa campanha eleitoral se não estiver de acordo com o programa político nem com as políticas. Nem posso apoiar pessoas que nada têm a ver comigo, quer do ponto de vista político quer de outros pontos de vista.

No partido ou no Governo?

No partido e no Governo.

E está a falar de José Sócrates, que é o líder do PS e primeiro-ministro?

Com o José Sócrates tenho tido uma boa relação pessoal. Por vezes muito tensa do ponto de vista político, como é agora o caso, mas boa do ponto de vista pessoal. É até interessante conversar com ele. Mas para apoiar Sócrates terei de apoiar alguns dos seus apoiantes, e isso não posso fazer. E teria de apoiar algumas políticas... Teria de fazer, digamos assim, de impor condições que não sei se ele estaria disposto a aceitar ou se teria possibilidade, mesmo, de as levar à prática.

Isso significa que não será candidato a deputado nas próximas legislativas?

Dificilmente.

Quais são os ministros que considera mais à esquerda neste Governo? Até para tentarmos perceber quem são as pessoas que efectivamente vê a mais ao lado do primeiro-ministro.

Não vou fazer apreciações dessa natureza. Não quero assistir à degradação da democracia. E uma coisa que degrada a democracia é a confiscação do Estado por interesses poderosos, interesses que não são sufragados.

Sobretudo económicos?

Interesses económicos. E também penso que não é bom para a democracia que haja uma confusão entre os negócios e a política. É perfeitamente legítimo que as pessoas se entreguem aos negócios, façam a sua vida nos negócios, que ganhem dinheiro, façam riqueza...


(continua)

Manuel Alegre 000201DD


Última edição por Admin em Sáb Nov 22, 2008 4:37 pm, editado 1 vez(es)
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MensagemAssunto: Entrevistas   Manuel Alegre Icon_minitimeDom Nov 16, 2008 11:14 am

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"Não me admira que surjam novas forças políticas à direita e à esquerda"

[Manuel Alegre 492251

João Marcelino (DN) e Paulo Baldaia (TSF)

Manuel Alegre.


(continuação)

Com este Governo, essa confusão aumentou?

... O que não é aceitável, nem recomendável, é que uma pessoa exerça cargos políticos e depois passe para os negócios ou misture negócio e política. Contamina a confiança das pessoas na democracia e isso não é possível. Não estou a falar do Sócrates, mas de pessoas que têm andado por aí no PS, no PSD. Vão dos ministérios para a gestão das empresas onde o Estado tem participação, e vice-versa, e isso não é bom. Descredibiliza a democracia. Tivemos há pouco tempo a discussão da questão da Lusoponte com três ex-ministros! Não é bom! Independentemente das pessoas, e não estou a pôr em causa as pessoas de algumas das quais até sou amigo, isto não é bom, não é são.

Afastou definitivamente a hipótese de patrocinar a criação de uma nova força política que trouxesse novidades a esse nível?

Nós nunca podemos dizer "definitivamente" em política, é uma coisa que já percebi. Sobretudo numa situação destas, em que se fechou um ciclo, está a nascer um novo ciclo, está a haver uma mudança de paradigma, muitas coisas podem acontecer! Está a haver uma recessão económica, que vai trazer consequências sociais imprevisíveis...

A recessão está na Europa, mas ainda não está aqui, em Portugal. Acredita que nós escapamos?

Não, não escapamos. Não acredito nisso, não podemos escapar. Aliás, não estamos a escapar. Ontem saiu mais uma estatística: na saúde caímos sete pontos. Dos países europeus só temos abaixo a Roménia e a Bulgária. Aqueles índices da OCDE dizem que estamos nos três onde há maiores desigualdades. Abaixo de nós só a Turquia e o México. E somos o país da União Europeia onde há maior desigualdade na distribuição da riqueza, portanto...

Mas até para isso, para que esse combate possa ser feito, perguntava-lhe se vê necessidade de existir uma nova força política?

Se a crise social se agravar... Os Estados Unidos resolveram o problema, elegeram o Obama, que é uma resposta nova para uma situação de crise. Vai ser difícil, ele sabe, porventura muitas das promessas que fez não poderão ser imediatamente cumpridas, mas não creio que vá desiludir muito. Há uns cépticos que estão à espera que ele falhe, e ficariam satisfeitos se isso acontecesse. Eu espero que não falhe. Já na Europa não vejo, neste momento, grandes soluções alternativas. Portanto, não me admira que venha a haver grandes rupturas e que surjam novas forças políticas à direita e à esquerda.

E mesmo em Portugal?

Mesmo em Portugal. Não se esqueçam de que a ascensão do fascismo e do nazismo fez-se depois da grande depressão! E nessa altura havia a União Soviética, havia partidos comunistas fortíssimos, partidos socialistas fortes, tinha havido a Frente Popular em França, e havia sindicatos fortíssimos. Neste momento, a esquerda está muito debilitada. Pergunto mesmo, onde é que está a esquerda como solução política? Foi essa a pergunta que fiz no artigo que escrevi para o Diário de Notícias.

Mas estaria disponível para patrocinar o nascimento de...

Independentemente do que fizer ou não fizer no futuro, estou disponível para facilitar o diálogo e o encontro entre pessoas de diferentes quadrantes, para pensar em políticas, políticas públicas, políticas alternativas, para reflectirem sobre novos rumos e sobre um novo paradigma.

E essas pessoas podem estar dentro do PS, dentro do Partido Comunista (PCP) e do Bloco de Esquerda?

Dentro do PS, do PCP, do Bloco de Esquerda, ou ser independentes, que é o que são a maior parte delas. Porque há muitas pessoas que querem participar na vida pública, já participaram. Algumas delas foram até referências da construção da democracia e acabaram por se cansar. E hoje querem participar e não têm como nem onde...

Acredita que pode haver uma unidade de esquerda?

Unidade de esquerda, em termos de unidade interpartidária, não.

E se o PS ganhar as eleições e não tiver maioria? É à esquerda que se deve aliar?

Era com a esquerda que devia dialogar. O PS devia dialogar sempre com a esquerda. Aliás, o PS deve dialogar com todos, a democracia é feita de confronto e é feita de diálogo, há coisas em que deve dialogar...



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MensagemAssunto: Entrevistas   Manuel Alegre Icon_minitimeDom Nov 16, 2008 11:32 am

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"Não me admira que surjam novas forças políticas à direita e à esquerda"

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João Marcelino (DN) e Paulo Baldaia (TSF)

Manuel Alegre.


(conclusão)

Não falo em diálogo, falo mesmo em aliança para governar...

É difícil, do ponto de vista inter-partidário. Primeiro, o PCP, basta ler as suas teses, tal como está não me parece que queira aliança nenhuma ou que esteja nessa disposição. Aliás, nunca a quis, e foi um dos males da nossa democracia em 74/75. O PCP privilegiou um entendimento com um sector do MFA (Movimento das Forças Armadas) em detrimento da aliança com o PS. Portanto, não creio que seja possível. No Bloco de Esquerda há pessoas que tentam criar pontes, criar convergências, e penso que esse diálogo se deveria fazer. Mas não só interpartidos. Fora dos partidos há muita gente boa! Estão aí essas revistas online, gente que não pertence a partido nenhum, que pensa sobre os grandes temas, sobre o sindicalismo, sobre a educação, sobre a saúde...! Estão nas universidades, nas empresas, na vida civil... É preciso dialogar com toda essa gente! Há uma coisa relativamente à qual sou contra, o Bloco Central. Isso é uma coisa fatal para a democracia. Levará a várias rupturas, à direita e à esquerda.

O primeiro-ministro dizia, há 15 dias, que o Partido Socialista (PS) tinha "muito orgulho" de si, mas acrescentou agora que "o senhor está disponível sempre para dar razão a toda a gente menos ao Governo e ao PS". Como é que comenta?

O PS é um partido livre e plural. Irritei-me com a ministra da Educação e ele ficou um bocado nervoso com as coisas que eu disse, embora também tenha acrescentado que eu tinha o direito a ter a minha opinião. Respondi que gostaria que me dessem boas razões para não ter tantas razões de crítica.

E também ficou irritado ao ouvir essa afirmação?

Não, não. Até me ri!

Mas a verdade é que tem estado contra muitas das políticas do PS. Esteve contra a propósito do Código do Trabalho, da educação, da saúde, dos funcionários públicos. Pergunto-lhe: o que é que o Governo tem feito de bem?

Olhe, a redução do défice, apesar dos custos... Assumiu e cumpriu aquilo que estava estabelecido com Bruxelas. O que está mal é Maastricht, as imposições de Maastricht e de Bruxelas. Mas o Governo conseguiu cumprir o défice e acertar as contas públicas. Não é um fim em si mesmo mas é uma condição de se poderem fazer outras coisas. E houve outros temas em que votei a favor: a lei do divórcio, a procriação medicamente assistida, a interrupção voluntária da gravidez. Mas penso que o Governo aplicou muitas das receitas, que são as chamadas receitas do pensamento único, veiculadas pela OCDE e também, através da OCDE, por Bruxelas, e que levaram à situação em que estamos agora de grande colapso financeiro. Esta ilusão de que o sistema financeiro se podia auto-regular, de que o Estado devia diminuir o seu papel interventor, o seu papel regulador... Foi por isso que chegámos onde chegámos. As receitas eram as mesmas para todo o lado: menos regulação de Estado, menos papel do Estado, esvaziar os serviços públicos, flexibilização. Se aqui há uns meses estivéssemos a falar da nacionalização de um banco, diziam que nós estávamos malucos, não é? E agora são os ideologicamente derrotados, os defensores do Estado mínimo, que pedem intervenção do Estado.

José Sócrates tem dito, ultimamente, que é a grande derrota do liberalismo...?

Tem razão, estou de acordo com ele! O que é preciso definir é o que deve ser a intervenção do Estado e qual o sentido que tem a própria intervenção do Estado nesta questão da nacionalização da banca ou noutras nacionalizações que eventualmente poderão surgir se a crise se agravar. Não se trata só de socializar as perdas, não é? Trata-se também de definir prioridades. Os investimentos públicos são necessários. Foi assim, aliás, que o Roosevelt venceu a grande crise do início do pós-guerra e de 29, com o New Deal. Mas é preciso definir também que investimentos públicos. Grandes obras públicas, sim senhor, que é preciso criar emprego, mas é necessário investir também no sector produtivo e nos seus núcleos mais competitivos: Investir na agricultura, em bens agrícolas, porque temos de diminuir a dependência do exterior e garantir a soberania nacional! Acabou-se com a agricultura, acabou-se com as pescas e acabaram-se com as indústrias tradicionais em Portugal como consequência da nossa entrada na União Europeia (UE). A questão da agricultura foi mal pensada, mal resolvida, mal negociada. E a das pescas também! Teve não só consequências económicas, mas também sociais e culturais. A agricultura e as pescas fazem parte da nossa própria identidade e da nossa soberania. Portanto, o investimento na agricultura é importante, porque a terra é a principal riqueza, a terra nunca se desvaloriza, e nós estamos entalados entre a Espanha e o mar... Tudo, neste momento, é muito volátil, tudo, neste momento, é muito incerto, não é? Somos uma velhíssima nação que foi pensada por grandes homens em momentos decisivos e através dos séculos e temos de saber garantir a nossa autonomia. Porque o facto de estarmos na UE - e sou partidário de estarmos na UE porque devemos estar na vanguarda e no centro das decisões - não significa uma dissolução nacional.

Defende que se tem de mudar as políticas a nível europeu?

As políticas a nível europeu, sim! Ainda agora, no dia 11 de Outubro, o Stiglitz escreveu um importantíssimo artigo no Le Monde, como eu também várias vezes o disse, defendendo que a União Europeia devia mudar os 3% do défice público. Não é possível fazer face à crise actual impondo aquele limite dos 3% de défice público.

Mas também não é possível um Estado sobreviver se tiver permanentemente défices públicos elevados. Isso acarreta dívida e alguém tem de pagar...

Para ter investimento público, e para poder combater a depressão e criar emprego, etc., tem de se ter alguma margem de manobra, sobretudo nos Estados mais fracos. Os limites são muito, muito rígidos. Stiglitz também recomenda mudar os estatutos do Banco Central Europeu (BCE), porque privilegiam o controlo da inflação. Isso garante a estabilidade, mas depois estrangula o crescimento económico. E estrangulando o crescimento económico provoca-se desemprego.

Acha, portanto, que os Estados deviam ter mais intervenção no BCE? Menos autonomia para o BCE, mais política?

Devia rever-se os estatutos nesse sentido de ser menos rígido no controlo da inflação e que agora a UE devia ter mais flexibilidade em relação ao défice público. Aqueles países nórdicos que tantas vezes se elogiam são os países com maior défice público. E, no entanto, são os países com maiores níveis de vida, embora agora também todos apanhem por tabela, porque ninguém está fora desta crise.

Há poucos dias escreveu no Diário de Notícias um artigo em que dizia que era preciso reinventar a esquerda. O que é que isso significa concretamente? Estamos a falar de se mudarem programas? De aparecerem novas forças?

A esquerda tinha modelos. Tinha o modelo soviético e das democracias populares, e depois o modelo chinês e albanês e o modelo cubano. Os socialistas tinham o modelo da social-democracia europeia. Caiu o Muro de Berlim, esperava-se que viesse o socialismo democrático mas veio foi a globalização.

Não há um novo paradigma?

Não há um novo paradigma! Quer dizer, agora está-se a esboçar um novo paradigma, que por acaso vem da América, dos Estados Unidos, com a eleição do Obama, que é, em si mesma, uma grande revolução cultural.

Francisco Louçã diz que Obama não é um homem de esquerda?

No contexto americano, é! E penso que em muitas das suas políticas é com certeza mais à esquerda do que alguns pretensos esquerdistas europeus. E aquilo é uma grande mudança, cívica, democrática, cultural...

E pode influenciar esse novo paradigma?

[Passando por cima da questão] Sou da geração que veio de Angola para Portugal no Vera Cruz... Recebemos a notícia da morte do Kennedy, depois do irmão e do Martin Luther King. Conheci o Eldridge Cleaver, essa gente toda... Se há trinta e tal anos me perguntassem se isto era possível diria que não! Portanto, isto é uma grande lição de vitalidade da democracia americana.

Repito: e pode influenciar esse novo paradigma?

Isto é o fim de um ciclo, que começou com o Reagan, teve reflexos na Inglaterra... em todo o lado. Teve reflexos aqui, na imprensa, nos comentadores, nos partidos políticos, em tudo. Mas as pessoas cansaram-se e esse ciclo acabou. Talvez se inicie ali agora a busca de um novo paradigma, não de um modelo global, porque não é possível um modelo global, mas de novas políticas e sobretudo de novas políticas públicas necessárias à democracia.

Tem escapado à disciplina do grupo parlamentar em algumas das votações no PS. Sente-se uma espécie de provedor da esquerda?

Não, não. Há lá pessoas de esquerda que eu respeito muito, como o presidente do grupo parlamentar o camarada Vera Jardim não sou provedor de coisa nenhuma. E não tenho escapado à disciplina parlamentar; respeito a Constituição e está lá: "O deputado exerce livremente as suas funções" e não pode ser...

Certo, mas há uma disciplina...

... Não pode haver procedimento, nem criminal, nem cível, nem disciplinar. Respeito a Constituição e sou julgado por aqueles que me elegeram. Mas sei que, evidentemente, sendo eleito em lista partidária há algumas coisas em que se deve observar a disciplina mesmo não estando de acordo: no orçamento, no programa, nas moções de censura e de confiança.

Os partidos da oposição têm falado em asfixia democrática. Também acha que vivemos uma situação de asfixia?

Não, não acho que haja uma situação de asfixia. Temos eleições livres, estamos aqui a falar livremente, os partidos da oposição podem falar... Se calhar também há um défice de oposição, há com certeza um défice de oposição e um défice de alternativas. De tal maneira que às vezes parece que eu é que estou a fazer a oposição! Mas sempre houve vozes críticas dentro do PS.

Haverá um défice de oposição porque o PS invadiu o espaço tradicional da direita?

As maiorias absolutas - não é que elas sejam antidemocráticas e às vezes até são necessárias em democracia -, num país como o nosso são propícias ao aparecimento de certos tiques. Já aconteceu assim com o PSD! Ontem, por acaso, estive a ler um discurso que fiz de crítica ao PSD e ao primeiro-ministro Cavaco Silva. Algumas das críticas que são feitas agora a esta maioria absoluta eram as críticas que nós próprios fazíamos à outra.

Preferia ter o PS no Governo sem maioria absoluta?

Preferia era que, mesmo com maioria absoluta, a consciência crítica existisse, o pluralismo fosse uma vivência; e que, como se dizia antigamente, fizesse parte do socialismo, e dos valores do socialismo, a existência de mecanismos de contrapoder mesmo quando se exerce o poder.

E eles falham agora, na actual maioria?

Sim, porque o partido neste momento é

uma máquina eleitoral, é uma máquina de poder. Deixou de ter uma vida própria e

uma vida autónoma, a direcção do partido

é o Governo.

Mas isso não tem a ver também com a qualidade dos deputados? O senhor tem esse peso específico e utiliza-o...

Bom, mas isso a mim ninguém mo deu. Essas coisas é a vida que...

É isso que lhe estou a perguntar: não há falta de qualidade também na vida política portuguesa?

Há uma coisa que está mal, mas penso que isso vai acabar: o problema da substituição dos deputados. Há um cabeça de lista, depois há os deputados, mas uns vão para o Governo, outros vão para aqui, outros vão para ali, e quando se chega a meio da legislatura já só lá estão os suplentes e às vezes os últimos suplentes, deputados pouco conhecidos ou quase anónimos...

Houve também uma fase da vida do PS em que muitos funcionários ascenderam a dirigentes políticos?

Este sistema eleitoral foi feito para consolidar os partidos políticos e estava certo. Mas os partidos afunilaram muito a sua vida, e há um divórcio hoje, não só aqui, muito grande entre a vida política partidária e a sociedade e os cidadãos.

E como é que se resolve isso não estando ainda à vista um sistema melhor que esse?

Aparecem movimentos... A minha campanha presidencial é um exemplo disso.

Movimentos de cidadania?

A democracia participativa complementa, aliás está na Constituição, a democracia representativa, mas é preciso que os partidos se reformem. Os partidos são irreformáveis. É muito difícil mudar um partido por dentro. Um partido pode mudar pela pressão da opinião pública ou por alteração da própria lei eleitoral. Aqui já se pensou nisso, fazer círculos uninominais e um círculo nacional...

Há agora uma nova proposta em estudo...

... Mas acaba por nunca funcionar. Isso levaria à mudança do tipo de deputados que temos, porque numa eleição uninominal, por exemplo, nos Estados Unidos ou na Inglaterra, os deputados preocupam-se com o seu eleitorado, respondem perante o seu eleitorado. Claro que têm uma ligação ao partido, mas é uma ligação diferente. Têm sobretudo uma ligação ao seu eleitorado e se não respeitarem os compromissos assumidos com o seu eleitorado, ele não os reelege. Tal como "isto" funciona, quase que não vale a pena haver 230 deputados. Fazem-se as eleições, estabelece-se uma proporção, fica um por bancada e votam na proporção dos votos obtidos nas urnas.

E sai mais barato!...

Isto não é bom. Eu, que estou lá desde a Constituinte e que vivi outros momentos com outra vivacidade nos debates, porque estavam ali as grandes figuras da nossa democracia da esquerda à direita, tenho de reconhecer que havia outra qualidade e outro tipo de actos. É evidente que se fala, aqui também, dos privilégios dos políticos. Os políticos têm muito poucos privilégios, sobretudo no que respeita aos seus vencimentos, embora os portugueses também os não tenham, de uma maneira geral. Mas hoje as solicitações e as remunerações na vida privada são muito mais atraentes...

Apoiaria uma alteração às remunerações dos políticos?

Sim, apoiava.

Sem medo de enfrentar um eleitorado?

É preciso coragem também para enfrentar isso, não é só para diminuir nos salários dos funcionários e cortar naquilo que são considerados privilégios e que muitas vezes são direitos adquiridos. Porque corremos o risco de não haver uma renovação de qualidade. Os quadros novos, as novas elites, seguem outros caminhos, não vão querer meter-se em partidos políticos muito fechados em si mesmos, com muita mediocridade lá dentro e, sobretudo, muito afunilados. Não quer dizer que não se interessem pela vida pública. Tenho filhos, conheço amigos dos meus filhos, muita gente nova. Na minha campanha tive esse privilégio de ter muita gente nova, gente que me dizia que era a primeira vez que abraçava uma causa. Mas não estão para suportar essa coisa de estar num partido , sujeitos a um presidente de federação que funciona com um cacique. Não estão para isso, vão à vida deles! Isto não é bom para a democracia.

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MensagemAssunto: Contra o crime de amanhã   Manuel Alegre Icon_minitimeQua Nov 19, 2008 5:55 pm

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CONTRA O CRIME DE AMANHÃ

Baptista-Bastos
Escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt

Estou em crer que a dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues deu um pontapé na maioria absoluta que os disparates políticos da dr.ª Manuela Ferreira Leite presumivelmente garantiam ao eng.º José Sócrates. Como a ministra da Educação não decide, na solidão alcatifada do gabinete, sem escutar, inevitável e antecipadamente, o primeiro-ministro, infere-se que este é o principal responsável da situação. Não há parábola que remova esta sucessão de evidências. Sócrates está longe de ser um bom governante. Porém, a presidente do PSD ainda seria pior. As perspectivas não são de molde a alegrar-nos. Estes "mandantes desabusados" (para usar uma expressão cara a Aquilino) tornaram insuportável a vida portuguesa. A nossa inalterável ingenuidade cimentou-os no poder. A verdade é que, depois do PREC, com ligeiras variantes, o descontentamento, a raiva, o desespero causados pelas mentiras sistemáticas e despudoradas converteram o nosso regime numa duvidosa democracia. Direi: numa democracia distanciada, sem alma nem paixão, ausente do "outro", como certos preopinantes quiseram moldar a "modernidade" do jornalismo a essa obscenidade ética e deontológica da "distanciação". Em todo este comportamento político reside algo de tirânico, resultado de uma educação que se manifesta larvarmente, e cujas origens podem ser encontradas numa Igreja que se não desproveu da rigidez e de uma classe dirigente organizada na mediocridade, no autoritarismo, e destituída de grandeza. Para essa gente, as declarações de Manuel Alegre, ao Diário de Notícias de domingo, suscitam um leve desdém, um trejeito de enfado ou, então, um trovejar de frases inócuas. "Ele diz sempre o mesmo", formulou um dirigente "socialista", muito adicto à felicidade de ser a voz do dono, qualquer que esse dono seja. Não é assim. Alegre tem sido um respingão incómodo, ante a inqualificável inércia e o desacrediante desvio ideológico do PS. E há um núcleo central das suas opiniões que se mantém, exactamente porque ele não se deixa pacificar, possui convicções, e, goste--se ou não, tem combatido a lassa indiferença de muitos dos seus "camaradas". O documento recolhido por João Marcelino e Paulo Baldaia é particularmente importante, porque cria uma declarada ruptura com "este" PS, ao mesmo tempo que o deponente recusa o exílio interior. Penso que a questão dos professores, adicionada a todas as querelas conhecidas, determinou este desabafo, que nada tem de secundário nem de sentimental. Manuel Alegre sente-se embaraçado num partido que se fechou à sociedade e que traiu os testamentos legados, em nome de uma "esquerda moderna" cedo naufragada em soluções parciais e em repugnantes concessões - que permitirão, acaso, o crime de amanhã. Ele é contra. |

In DN

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MensagemAssunto: Alegre reúne as tropas a 14 de Dezembro   Manuel Alegre Icon_minitimeSáb Nov 22, 2008 4:40 pm

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Alegre reúne as tropas a 14 de Dezembro

Manuel Alegre 568143

ANA SÁ LOPES
RODRIGO CABRITA

Esquerda. Segunda edição do encontro do Teatro da Trindade

Manuel Alegre, o histórico socialista que já anunciou não ser candidato pelo PS em 2009, prossegue o seu caminho de ruptura com a direcção Sócrates, em busca de "novas soluções políticas" e convergências à esquerda, nos antípodas da estratégia oficial do partido.

A próxima grande reunião do "alegrismo" está marcada para 14 de Dezembro, na Aula Magna da reitoria da Universidade de Lisboa. A organização está em marcha e na comissão promotora figura o nome de Francisco Louçã, o líder do Bloco de Esquerda que já tinha estado presente no comício do Teatro da Trindade, no princípio de Junho. Além dos dirigentes bloquistas, a comissão promotora integra ainda militantes e ex-militantes do PCP e muitos independentes.

O modelo deste segundo encontro é diferente do que foi utilizado no Teatro da Trindade. Em vez de mais um "comício-festa", a comissão promotora decidiu fazer um debate à volta do tema "Democracia e Serviços Públicos". A questão vai ser aprofundada em vários painéis: Educação, Saúde, Economia, Cidades e Trabalho. Haverá, em cada um dos temas, vários oradores, debate público e Manuel Alegre faz o discurso de encerramento da sessão.

O objectivo é aquele que tem impulsionado as intervenções públicas de Alegre: "Pôr a esquerda a falar com a esquerda, a debater ideias e a procurar outras soluções políticas", como disse ontem o ex-candidato presidencial ao DN. Do comício do Trindade até agora alguma coisa se avançou, segundo Alegre: "Há pessoas da esquerda que estão a falar umas com as outras e isso não existia dantes". Há "qualquer coisa no ar", como se corporiza é a dúvida.q

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MensagemAssunto: Alegre já admite alternativa para ir a votos   Manuel Alegre Icon_minitimeTer Dez 16, 2008 12:44 am

Alegre já admite alternativa para ir a votos

JOÃO PEDRO HENRIQUES

Esquerdas. O fórum Democracia e Serviços Públicos reuniu-se ontem. Manuel Alegre disse que o objectivo é definir uma nova "alternativa de poder" à esquerda, com uma "nova base programática" que até pode "ir a votos". Uma alternativa que, no seu entender, não se pode fazer sem eleitores e simpatizantes do PS

Deputado do PS quer "uma nova esperança e uma nova alternativa"

As portas para a formação de um novo partido à esquerda estão completamente escancaradas. Foi Manuel Alegre quem disso tratou, ontem, no discurso com que encerrou, em Lisboa, o Fórum Democracia e Serviços Públicos, segundo episódio do chamado Fórum das Esquerdas" (o primeiro foi em 3 de Junho passado, com um comício no Teatro da Trindade).

No discurso, o deputado socialista foi o mais claro que podia ser: "A reconfiguração da esquerda implica a capacidade e a vontade de construir uma perspectiva alternativa de poder." E embora "talvez aqui as convergências sejam mais difíceis de construir", há que ter uma "nova coragem", a "coragem de virar a página e construir uma nova esperança e uma nova alternativa". É preciso, disse, quebrar um "novo tabu": aquele em de um lado está uma esquerda [a do PS] que quando é Governo "deixa de ser praticante"; e, do outro, outra esquerda [a do PCP e a do Bloco de Esquerda] "que se acantona no contrapoder".

Um novo partido? Alegre foi insistentemente questionado pelos jornalistas. Depois de dizer que o fórum de ontem é para continuar tendo em vista uma "nova base programática", reconheceu que essa nova base programática é para ser escrutinada pelos cidadãos eleitoralmente. "É para ir a votos. Não sou eu que defendo a insurreição. Já defendi, em tempos, mas agora não", afirmou, acrescentando: "Tudo é permitido porque tudo é permitido por lei." Seja como for, manteve as opções em aberto, afirmando que não lhe "cabe dizer a forma" como se organizará essa "nova esperança e nova alternativa": "Não vou decretar um partido."

Para já, "mudamos, discutindo" e resumir todo o debate em curso à possibilidade de uma cisão no PS "é um estereótipo". Porque "o PS até pode mudar". Aliás, fez questão de dizer no discurso, "com toda a franqueza e fraternidade", que "a reconfiguração da esquerda não se fará sem o concurso de eleitores, simpatizantes do Partido Socialista", dirigindo-se directamente aos militantes descontentes com a governação: "É para eles que vai neste momento o meu pensamento e a minha fidelidade de militante socialista."

Aparentemente, os "avanços" de Manuel Alegre sobre a possibilidade da criação de uma nova formação partidária não caíram muito bem no seu outro parceiro na organização do fórum de ontem, o Bloco de Esquerda. "A construção de uma alternativa não é a criação de um novo partido, mas sim não nos comprometermos com a política que defende as grandes fortunas", disse Francisco Louçã, líder do partido, aos jornalistas, após a sessão de encerramento. Já antes tinha afirmado: "Não viemos aqui discutir a formação de um novo partido."

Ana Drago, deputada, e representante do BE na sessão de encerramento, passou ao lado do assunto. Limitou-se a dizer que os participantes na iniciativa estiveram - ontem como no comício do Teatro da Trindade - a "refazer a geografia do debate político à esquerda". "Para nós é um capital de esperança", acrescentou, afirmando um único "compromisso de mudança" face ao estado do País: "Não podemos, não queremos continuar a viver assim." Maria do Rosário Gama, professora, militante do PS, presidente do conselho executivo da escola secundária Infanta D. Maria (Coimbra), foi a primeira oradora do encerramento do fórum. Num discurso fortemente crítico para a ministra da Educação, exclamou, a certa altura, lendo partes do programa eleitoral do PS para a educação prometendo melhorar a "auto-estima" dos professores: "Só dá vontade de rir." E a audiência - a Aula Magna estava dois terços preenchida - riu-se.

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MensagemAssunto: Louçã afasta a ideia de criação de novo partido   Manuel Alegre Icon_minitimeDom Dez 28, 2008 10:24 pm

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Louçã afasta a ideia de criação de novo partido

EVA CABRAL

Fórum. Líder do BE diz que iniciativa juntou cidadãos

BE nasceu da necessidade de se "refundar a esquerda"

"O sucesso do fórum deve-se ao que lá se passou. E não ao que lá não se passou", frisa o líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, em artigo no www.esquerda.net. Louçã reforça a ideia de que "isto vale, em particular, para as especulações acerca de um novo partido da esquerda."

Escrevendo no portal do BE já depois da última reunião do Fórum das Esquerdas, Francisco Louçã lembra que "a iniciativa juntava cidadãos e cidadãs mas não partidos. Juntava-os numa plataforma de debate e de acção sobre os serviços públicos".

O líder do Bloco lembra mesmo a intervenção de Alegre nessa reunião: "Isto é o que é. Não há aqui partidos a mais nem partidos a menos." Palavras em relação às quais Louçã refere que Alegre " tinha toda a razão. Frisa, mesmo, que "seria inconcebível que a iniciativa encobrisse um projecto discreto de um novo partido, independentemente da opinião dos seus promotores ou participantes". Lembra que Manuel Alegre, questionado sobre o assunto, "deixou aliás muito claro que o fórum era o que ali estava e não qualquer projecto diferente, sem prejuízo da liberdade de qualquer pessoa seguir o seu caminho ou apresentar as suas propostas à sociedade. Se posso falar do que sei de todos os promotores, é certo que nenhum aceitaria sobrepor a esta iniciativa aberta o projecto de um partido que feche. E estou de acordo com eles".

O líder do BE assume que "a ideia de um novo partido foi perpassando em inúmeros comentários até porque, interrogado no final do fórum sobre a sua perspectiva pessoal, Manuel Alegre não a admitiu, mas também não a recusou em qualquer circunstância. Nem teria sentido que o fizesse, a liberdade de decisão não pode ser limitada. Mas isso não autorizava a especulação, sobretudo porque o próprio tornou clara a sua perspectiva sublinhando que um partido não se decreta e só pode resultar de um projecto político consistente", realça Louçã.

Sobre as relações de Alegre com o PS, Francisco Louçã é peremptório: "Fica claro que não me pronuncio, nem ninguém na direcção do Bloco o fez ou fará, sobre as escolhas de Manuel Alegre e a sua relação com o PS. Essas são decisões que só competem aos próprios, e só podemos e devemos respeitar essa liberdade de escolha." Reconhece que, "ainda assim, muitas pessoas precipitaram-se para defender ou comentar esse cenário. Uns porque o desejam (como alguns militantes de esquerda sem partido), outros porque o preferem".

Francisco Louçã lembra, ainda, que o BE "nasceu da necessidade de refundar a esquerda". Juntaram-se, assim, " correntes com tradições diferentes, mas sobretudo muitos militantes sociais e políticos que exigiam mais esquerda, mais coerente, mais unitária e mais combativa, o Bloco definiu um projecto estratégico: a rejeição da modernização conservadora, o combate às elites dominantes que exploram o modelo de salários baixos e de desigualdade social, as propostas de mobilização de massas e o reforço de movimentos sociais protagonistas, o socialismo como alternativa. Procurou, e tem conseguido, juntar forças diferentes, ideias e opiniões, experiências e vidas comprometidas com a luta coerente pelo programa político que temos construído".

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MensagemAssunto: Tendência 'alegrista' adia rupturas com Sócrates   Manuel Alegre Icon_minitimeTer Jan 13, 2009 11:19 am

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Tendência 'alegrista' adia rupturas com Sócrates

JOÃO PEDRO HENRIQUES

PS. O grupo de Manuel Alegre no PS reuniu-se ontem, em Lisboa. Vai manter-se organizado e quer "discutir politicamente" com a direcção do partido e com "base em propostas políticas concretas". Quanto à formação de um novo partido, continua a não excluir. Mas só sublinha as dificuldades

Alegre disposto a "discutir politicamente" com José Sócrates

Manuel Alegre reuniu ontem, no Hotel Altis, em Lisboa, a sua tendência no Partido Socialista. Se alguém esperava rupturas, enganou-se.

Houve "decisões", que "a seu tempo serão anunciadas", sobre a "relação" da tendência com a direcção do partido, "tendo em vista as próximas eleições". Mas, para já, revela-se uma vontade: "Estamos, como sempre, dispostos a discutir politicamente e à volta dos valores e principios que defendemos. E com base em propostas políticas concretas." Questionado sobre se a relação da tendência com o PS saiu mais forte da reunião, revelou-se enigmático: "Não depende só de nós". Depende também, presume-se, da direcção do partido.

Inédito elogio

Outras certezas foram expressas pelo deputado no final da reunião: por um lado, o "movimento vai continuar", "isto é uma realidade" - "haja o que houver, mantemo-nos unidos", sendo agora o objectivo "integrar pessoas não filiadas"; e por outro: "Comigo não há mercearia. Nenhum de nós está à venda para o que quer que seja nem nunca a nossa disputa foi por cargos ou por lugares."

Pelo meio, surgiu também, um inédito sinal positivo à governação: "Houve elogios a uma ministra, a da Saúde, pela forma como tem resolvido alguns problemas. Quando se critica também é bom dizer que se elogia."

Ana Jorge apoiou Alegre nas presidenciais. Mas este elogio significa também que o ex-candidato presidencial se esforça por manter algumas pontes com Sócrates.

À entrada da reunião, assumiu o seu quinhão de responsabilidade na maioria absoluta do PS. "Na maioria absoluta que ele teve, como se viu nas presidenciais, há uma fatia também em que se calhar eu dei a minha contribuição, participando na campanha, como participei ao lado dele."

"Pelos meus lindos olhos"

Foi neste contexto que comentou o convite que o secretário-geral do PS lhe fez, na entrevista à SIC da semana passada, para renovar o seu mandato de deputado: "Sabe que não sou eu sozinho, não é só pelos meus lindos olhos."

Rindo-se, recusou a hipótese de vir a ser considerado responsável - "como fez o Ricardo Costa, aliás um excelente jornalista" - de ter nas suas maãos a maioria absoluta do PS nas próximas legislativas. "Qualquer dia sou eu o responsável pelo atentado de Sarajevo", disse - numa referência que se presume ser ao atentado que vitimou, em Junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, atentado esse que esteve na origem da I Grande Guerra Mundial (1914-1918).

Quem financia o partido?Manuel Alegre voltou a reafirmar que muito dificilmente voltará a ser candidato pelo PS a deputado. "É dificil , a menos que determinadas coisas aconteçam" - "coisas" essas que não especificou. Fez questão, por outro lado, de manter as opções em aberto: "Nunca disse que ia fazer um partido e nunca disse que não ia." Aqui, porém, sublinhou exclusivamente as dificuldades. "É o meu amigo que financia?", perguntou a um jornalista, rindo-se. O dinheiro, disse, "é uma das coisas que é essencial": "Não sou um aventureiro político, sou uma pessoa responsável. Um partido não se faz como um fato." Por outras palavras: o caminho da criação de uma nova formação partidária parece, excluído. Dramatizando as decisões que terá de tomar, afirmou: "Está um momento pesado para mim, um momento pesado demais para uma só pessoa." Ele e Sócrates poderão entender-se mas "a porta é estreita". "Para ele e para mim."

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MensagemAssunto: Lello acusa Alegre de "falta de carácter"   Manuel Alegre Icon_minitimeDom Mar 08, 2009 4:15 pm

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Lello acusa Alegre de "falta de carácter"

SUSETE FRANCISCO

Críticas. Deputado diz que foi atingido o "limite"

Dirigente socialista José Lello diz que o colega de bancada está a "minar a unidade do PS"

O deputado socialista José Lello acusa Manuel Alegre de uma "inadmissível e inaceitável falta de solidariedade e de camaradagem com o PS", uma atitude que diz revelar "falta de carácter". Em causa as sucessivas votações de Alegre aos lado dos partidos da oposição, na Assembleia da República, e em sentido contrário ao voto da sua bancada.

Falando no programa Pontos de Vista, da RTPN, Lello dirigiu-se ontem em termos muito críticos à actuação mais recente do ex-candidato presidencial, acusando-o precisamente de "falta de carácter". Já em declarações ao DN, considerou que Alegre chegou a um ponto de fronteira - "Há um limite para esta atitude dúbia, de ambiguidade, e esse limite chegou".

O responsável pelas Relações Internacionais do PS argumenta que o ex-candidato presidencial "prejudica o partido". "Não é justo que um militante prejudique o partido como ele tem feito, é inaceitável, tem que fazer opções. Ou é do PS ou não é do PS."

Para José Lello, as sucessivas dissidências nas votações parlamentares "representam uma quebra de solidariedade que não é admissível". "O PS sempre tratou Manuel Alegre com grande solidariedade e camaradagem e ele não tem dado reciprocidade. Este tipo de atitudes tem limites e revela mesmo falta de carácter", acusa.

Lembrando que o deputado é "vice-presidente da Assembleia da República em representação do PS", José Lello acrescenta que Alegre "não pode ter o melhor do usufruto de pertencer ao Partido Socialista e depois negar os princípios de solidariedade".

Quanto à entrevista que o histórico socialista deu ontem ao semanário Expresso, em que admite que se a lei o permitisse avançaria com o MIC [Movimento de Intervenção e Cidadania] às próximas eleições legislativas, concorrendo portanto contra os socialista, José Lello também não poupa nas palavras. "Daí infere-se que ele tentou ver se fazia um partido, como parece que não conseguiu, dá muito trabalho, fica ali a minar a unidade do PS."

A reacção às palavras de Lello veio ontem de Maria do Rosário Gama , membro do MIC. "O combate político é legítimo e a democracia permite a diversidade de opiniões, mas há limites que não devem ser ultrapassados e esses foram-no quando José Lello faz um ataque ao carácter de Manuel Alegre", afirma, numa declaração escrita. E deixa um recado - "Manuel Alegre incomoda José Lello: quando este afirma que 'o milhão de votos das Presidenciais podem ser guardados no freezer' provavelmente está enganado. Se calhar não podem, quem sabe se não fariam falta para o Partido Socialista ter maioria absoluta."

Maria do Rosário Gama considera que as palavras de José Lello revelam uma atitude que pouco dignifica a classe política.

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MensagemAssunto: Re: Manuel Alegre   Manuel Alegre Icon_minitimeDom Mar 08, 2009 4:26 pm

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Poucas vezes concordo com Lello, mas desta vez, aplaudo sem reservas a sua atitudo, não só porque define bem o comportamento de Alegre, mas também diz em voz alta o que todos pensam dele, sem coragem para o dizerem.

É óbvio que assiste ao Manel das Rimas o direito de fazer o que muito bem entenda, mas fora do partido, que lhe deu a notoriedade política de que goza, porque já ultrapassa e muito, a marca do razoável e desculpável.

Que vá à vidinha dele e logo veremos o que acontece, passadas as primeiras impressões...

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MensagemAssunto: Silêncio de Sócrates irrita Manuel Alegre   Manuel Alegre Icon_minitimeTer Mar 10, 2009 6:22 pm

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Silêncio de Sócrates irrita Manuel Alegre

JOÃO PEDRO HENRIQUES

PS. Líder não se demarcou de José Lello

José Sócrates recusou demarcar-se das acusações de "falta de carácter" dirigidas por José Lello a Manuel Alegre e isso está a irritar profundamente o ex-candidato presidencial.

Alegre mantém-se, ele próprio, em silêncio, mas o DN sabe que nas fileiras "alegristas" o episódio é visto como "grave" - o mais grave desde que Alegre, contra o PS, decidiu avançar para uma candidatura presidencial independente, apesar de o partido ter um candidato oficial, Mário Soares.

No "alegrismo" não é claro se José Lello actuou por conta própria ou com cobertura da liderança. Seja como for, sublinha-se que Lello é secretário nacional do partido.

Ontem a comissão coordenadora do MIC (Movimento de Intervenção e Cidadania, formado por Alegre após as presidenciais de 2006) sinalizou a impaciência das fileiras "alegristas". Num comunicado assinado pelo presidente dessa estrutura, o advogado João Correia, lê-se que o MIC "não pode deixar de lançar um apelo aos simpatizantes, militantes e dirigentes do Partido Socialista para privilegiarem o combate de ideias e se demarcarem da utilização do insulto, próprio de uma cultura autoritária que não é a do Partido Socialista".

"A democracia não sobreviverá com os que minimizam os seus valores essenciais e o PS não se prestigia com estes ímpetos sectários de um dos seus principais dirigentes", lê-se no comunicado. "O que não falta a Manuel Alegre é um forte traço de carácter, manifestado durante décadas de luta e resistência em ditadura e em democracia. Não foi seguramente a falta de carácter que justificou a espontânea e inorgânica adesão popular à sua candidatura a Presidente da República. É rigorosamente esse traço de carácter que está a mais, na óptica de José Lello. E é pena."

O núcleo do Porto da Corrente de Opinião Socialista (tendência criada por Alegre dentro do PS) também emitiu um outro comunicado onde se lê que o "camarada José Lello é o mais recente e empenhado exemplo desta estranha psicopatia, confundindo, amiúde, liberdade, opinião e sobretudo, ideias, com uma alegada 'falta de carácter'".|

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