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Fóssil roubado em Vila Velha de Ródão Classificado como geomonumentoA triste notícia chegou como as tempestades que têm assolado o país. Um dos 16 mais importantes geomonumentos do Geopark Naturtejo da Meseta Meridional foi roubado da Herdade da Coutada.
O alarme foi dado pela Presidente da Câmara de Vila Velha de Ródão, Maria do Carmo Sequeira, numa visita feita ao local no final da semana passada. A seu pedido, as autoridades policiais já se encontram a investigar esta importante perda de património regional, em vias de classificação como de importância Municipal.
Foi como se tivessem apagado da paisagem um castelo medieval raiano ou destruído um dos raros núcleos de Arte Rupestre do Tejo que ainda podem ser visitados.
Trata-se de um tronco fóssil pertencente à espécie Annonoxylon teixeirae (da família das Anoneiras, árvore que só existe actualmente a latitudes tropicais). O fóssil terá sido descoberto nos inícios da década de noventa na Charneca, associado a uma exploração mineira Romana e transportado para junto do Monte da Coutada, onde se encontrava visitável desde então.
Logo após a sua descoberta, a Associação de Estudos do Alto Tejo chamou a atenção para a necessidade de remover o tronco fóssil para o espaço público da exposição “Arqueologia do Ródão”, no Centro Municipal de Cultura e Desenvolvimento onde, aliás, chegou a ter lugar reservado no projecto arquitectónico.
Considerado por vários especialistas das universidades de Lisboa, Coimbra e Évora como património geológico, em 2005 foi proposta pela Naturtejo a sua classificação como Móvel de Interesse Municipal, justamente pela sua vulnerabilidade face a actos de vandalismo e roubo, processo que decorria entre a autarquia de Vila Velha de Ródão e a família Ferro.
A necessidade da sua protecção foi apoiada pela ProGEO-Portugal, a Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico, a qual apresentou um parecer à Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão em Maio do ano passado.
Este fóssil, com um valor comercial baixo, mas de inestimável e inegável valor patrimonial para toda a região, tinha uma idade superior a cinco milhões de anos. O tronco fóssil era o mais importante fragmento de sete encontrados até ao momento, todos possivelmente associados a uma mesma árvore que terá atingido em vida quase 20 metros de altura, e mais de 95 anos de idade.
O tronco petrificado roubado tinha quase 2 metros de comprimento por 1 metro de diâmetro, com o peso teórico de 15 toneladas. O que pressupõe que o roubo terá sido planeado com recurso a uma retroescavadora e a um pequeno camião.
A sua importância para compreender as alterações climáticas do passado tem vindo a reflectir-se no aumento do número de visitantes ao local, através dos programas educativos e turísticos do Geopark Naturtejo, que considerava este um importante geomonumento e recurso turístico.
No mesmo período em que se deu o roubo, investigadores do Geopark Naturtejo apresentavam um trabalho no primeiro número da Açafa Online sobre a importância dos raros troncos fósseis encontrados em Vila Velha de Ródão, apontando para aspectos preservados no fóssil agora desaparecido que ainda não eram bem conhecidos, mesmo a nível internacional.
Os cientistas e autoridades municipais e do Geopark Naturtejo temem que as fotografias apresentadas naquele artigo e tiradas no final de Dezembro sejam as últimas a relatar mais uma importante perda de um património que deve ser de todos.
Os investigadores do Geopark afirmam que o tronco fóssil da Herdade da Coutada faz parte do inventário nacional de geossítios sob a alçada do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade e que, se não saiu do país, será fácil encontrar o tronco e punir os responsáveis pelo roubo e eventual comercialização do mais importante fóssil de Vila Velha de Ródão.
Por isso, se viu o fóssil que se mostra na fotografia não hesite em entrar em contacto com a Naturtejo: é propriedade de todos e das futuras gerações que está a ser usurpado pelo egoísmo do lucro de alguns!
In Msn Noticias