Vitor Nogueira

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O título é «Comércio tradicional»
Cultura



Vítor Nogueira lança novo livro de poesia

Vítor Nogueira acaba de ver publicado pela Averno, uma pequena mas conceituada editora de Lisboa, o seu quarto livro de poesia. O título é Comércio tradicional e, tal como acontecia com Senhor Gouveia, de 2006, é um conjunto de poemas inspirados na realidade quotidiana de Vila Real.

Mais propriamente, um conjunto de poemas centrados na extinta (e saudosa) Drogaria da Praça, lugar de tertúlia e convívio, por onde iam passando ao longo do dia várias figuras locais para dois dedos de conversa. Mas dizer isto é dizer pouco.

Porque a evocação dessas figuras nunca é gratuita ou estéril, antes permite ao poeta um ponto de partida para oportunas reflexões de natureza filosófica, embora disfarçadas por uma certa nonchalance e, muitas vezes, por uma enunciação próxima dum registo linguístico quase coloquial.

Comércio tradicional cumpre plenamente as promessas que se adivinhavam em Senhor Gouveia e Bagagem de Mão e é seguramente um dos melhores livros de poesia saídos em Portugal no ano de 2008.


, 2008-11-21
In DTM

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Comércio Tradicional - Poesia que aquece como fogo de carvalho
Livros



O novo livro de Vítor Nogueira - Comércio Tradicional - já está à venda

Novo livro de Vítor Nogueira – Comércio Tradicional

Acaba de sair novo livro de Vítor Nogueira – Comércio Tradicional, assim se chama. Comprei-o numa destas manhãs frias e li os primeiros versos (trata-se de um livro de poesia) sentado numa pastelaria, em Vila Real, onde me tratam como se eu não existisse, o que me faz bem, muito bem, de quando em vez. É que

Há alturas em que simplesmente
não queremos ser incomodados.

Com os olhos ia lambendo o vidro que me separava da rua onde as pessoas, com cara de véspera de natal, passavam, e passavam, e eu, sem deixar de lamber o vidro com os olhos, sussurrei:

Uma factura inteiramente paga. Um olho que chora,
um coração que sangra. Palavras que se dizem
sem destinatário certo. Este monólogo
deixa-me completamente vulnerável,
como se levasse uma tareia das antigas.

Haverá condições para uma rendição total?
Trata-se sempre de um momento chocante,
quando vemos que estamos sozinhos no mundo. Datas
que se recordam melhor do que o próprio aniversário.
Histórias de vida e morte demasiado entrelaçadas.

Já em casa, sentado à lareira – o vinho a espertar numa caneca de barro – continuei a mastigar cada verso deste livro, Comércio Tradicional, e – o telemóvel a tocar, qual mosca a mordiscar-me a sesta – parei para respirar, não respirar mas inspirar, antes de ler, em alta voz:

Há dias em que jogamos xadrez
com os nossos próprios corpos.
Andamos todos com pressa. Fugimos
ao primeiro cheiro a perigo, separamo-nos,
corremos como loucos. Parecemos
adolescentes com problemas sérios.

Vítor Nogueira já escreveu outros livros de grande qualidade, todavia, em minha opinião, este Comércio Tradicional é a sua obra maior.

Sim, contamos os dias todos
quando estamos encarcerados.
E com os anos aprendemos
a meter a barriga para dentro,
nas fotografias. Inventamos formas
simples de amortecer a queda.

A leitura deste Comércio Tradicional ajudou-me a amortecer a queda de uma certa espera que, por pudor, não confesso.

Comércio Tradicional, de Vítor Nogueira, é editado pela Averno e está à venda em livrarias com tradição.

Jorge Laiginhas, 2008-12-23
In DTM