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Portugal precisa de 386 dias para pagar dívida externapor RUDOLFO REBÊLO
Hoje
Para pagar a dívida era preciso, no final de Junho, mais 54 dias do que em igual período de 2008. A culpa é do Estado, que aumentou os gastos para ajudar economia a superar a crise.Os portugueses precisavam de trabalhar, em Junho deste ano, um ano e 21 dias para pagar a dívida do País ao estrangeiro, quando no mesmo mês de 2008 necessitavam "apenas" de 332 dias para saldar as contas. Portugal está "hipotecado" e, como afirmam os economistas, vive à custa das poupanças externas. Ou seja, os empréstimos excedem em 5,7% a riqueza gerada num ano no país (PIB). A culpa está nos excessos de gastos do Estado, empresas e famílias, que estão sobreendividadas.
Nos primeiros seis meses do ano, a dívida externa - acumulada nos últimos anos - ultrapassou a produção final do país é é já 105,7% do PIB. A factura ascende a 172,6 mil milhões de euros, contraídos sob a forma de empréstimos dos bancos, empresas e em títulos do Estado subscritos pela banca internacional.
Como foi gasto esse dinheiro? Se nos últimos anos foi a gula das famílias pelos empréstimos - para habitação, consumo, compras de carros - que "obrigaram" a banca portuguesa a pedir empréstimos aos banqueiros estrangeiros (ver caixa), agora é o Estado que está a gastar demasiado e a pressionar as contas externas do país em alta.
Vamos a contas. Dos 172,6 mil milhões de euros pedidos aos bancos estrangeiros em Junho deste ano, o Estado (Administrações Públicas) era responsável por uma dívida de 89,1 mil milhões de euros (cerca de 73,3% da Dívida Pública prevista para este ano). Da responsabilidade da banca eram 77,1 mil milhões de euros. Os restantes seis mil milhões de euros eram dívida contratada por empresas directamente ao exterior, sem intermediários financeiros.
Enquanto a banca reduziu a sua responsabilidade em 18,5 mil milhões de euros, o Estado, para pagar défices e gerir a Dívida Pública, aumentou a dívida ao estrangeiro. Pediu mais 18,7 mil milhões de euros, face ao mesmo mês do ano passado, contratado através do lançamento de títulos do Tesouro a médio e curto prazo, sobre os quais paga juros.
Foi a crise económica que fez disparar os empréstimos do Estado ao estrangeiro. No ano passado, as despesas superaram as receitas em quase 4,5 mil milhões de euros. Este ano, após sucessivas revisões do défice orçamental, o desequilíbrio vai exigir mais 9,7 mil milhões de euros emprestados, o que corresponde a um défice de 5,9% do PIB.
É provável que seja necessário contratar mais dinheiro ao estrangeiro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que o défice orçamental será de 6,9% do PIB e que em 2010 poderá estacionar nos 7,4% da Produção final. A generalidade dos economistas - à esquerda e à direita do espectro político nacional - afirma que, par este ano, o desequilíbrio das contas orçamentais pode variar entre os 7% e os 9% do Produto.
É o preço a pagar pelo Estado para minimizar os efeitos da crise económica - mais despesas com os desempregados e com apoios directos à economia e empresas; e uma menor receita de impostos.
In DN