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Taça de Eduardo Nery inaugura projecto artístico da Vista Alegre ANA MARQUES GASTÃO
Artistas Contemporâneos. Próxima obra vai ser lançada em Maio Entre mil e uma peças existentes nos armazéns da Vista Alegre, Eduardo Nery pôde escolher um modelo, desenvolvido na década de 30, e decorá-lo iniciando, deste modo, o projecto Artistas Contemporâneos Portugueses, ontem lançado na loja do Chiado com a presença do artista.
Nery gostaria de ter trabalhado uma esfera, mas ficou-se pela semi- -esfera, o que condiz com a linha do seu percurso de rigor e de gosto pelas formas puras. Relembrem-se os círculos concêntricos da cúpula da Caixa Geral de Depósitos, já que o artista tem uma vasta obra pública.
Que propõe esta iniciativa? Segundo João Pinto Basto, director de marketing da Vista Alegre, o lançamento em duas edições anuais, limitadas e numeradas, de uma peça de um artista consagrado (caso de Eduardo Nery) ou de um criador emergente. Esta última será lançada, em Maio de 2009.
Na opinião deste responsável pela Vista Alegre, a "escolha de Eduardo Nery é feliz, o que não surpreende já que se trata de uma figura incontornável do mundo artístico português."
A taça, intitulada Ouro sobre Azuis, combina o dourado com um dégradé de azuis riscados e concêntricos. O dourado, Nery usa-o simbolicamente, desde os anos 70 (registo solar e não o da sumptuosidade), nas suas molduras, na faiança da Associação Nacional de Farmácias ou no Museu de Olaria de Barcelos.
Eduardo Nery investiu sempre na ilusão visual. Se muitas vezes viajou pela procura de ritmos e formas, de acordes cosmológicos e míticos, nesta peça não se afasta muito desse percurso. Trata-se de um trabalho de improviso, aventureiro no bom sentido da palavra, no qual o acaso tem um palavra a dizer. No peso vibrátil das cores, a luz fica sustentada por uma tensão vital e é possível relembrar, no jogo antinómico em que vive a obra do artista, o mestre da op art que ele foi em Portugal, criador rigoroso, geómetra, lírico.
Conta o pintor que, na feitura deste trabalho, descobriu um guache dourado que nunca tinha utilizado. A sua pintura reabsorveu-o, o que poderá ser visto, em Março, na Giefarte, onde exporá novos trabalhos.
Carlos Botelho, Cargaleiro, Roque Gameiro, Júlio Pomar, Sofia Areal são alguns dos artistas que têm vindo a trabalhar com a Vista Alegre, fundada, em 1824, por José Ferreira Pinto Basto, reconhecido mecenas.
In DN