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Personagem portuguesa é super-heroína islâmica FILIPE FEIO
Animação. Há cerca de dois anos, o koweitiano Naif al-Mutawa criou 'Os 99', uma história de banda desenhada com 99 super-heróis. O sucesso dos livros deu frutos, e a editora assinou agora contrato com a holandesa Endemol, empresa com que vai co-produzir uma versão animada para televisão
Catarina Barbarosa nasceu em Portugal, mas fugiu de casa ainda adolescente. Hoje, aos 17 anos, é conhecida pelo nome árabe de Mumita (em português, a destruidora), e faz parte de Os 99, um grupo de super-heróis islâmicos que em breve vão dar o salto dos livros de banda desenhada para a animação de televisão.
"Assinámos contrato com a Endemol International", explicou ao DN o criador e escritor da história, o koweitiano Naif al-Mutawa. "Estamos a co-financiar o projecto para uma audiência global", afirmou o fundador e presidente da editora Teshkeel (associada à Marvel americana), que em 2003 decidiu investir na literatura infantil e na banda desenhada. Para trás deixou a psicologia e o emprego num hospital do Koweit, junto de ex-prisioneiros de guerra.
"Depois de trabalhar com torturados de Sadam Hussein, uma personagem que muitos tinham como mito, comecei a pensar na imagem e nos ideais que transmitimos aos nossos filhos, e na necessidade de criar heróis islâmicos positivos, com a qualidade gráfica do Super-Homem e do Homem-Aranha, e com o potencial do Pokémon", explicou recentemente o autor, muçulmano praticante e liberal que venceu um prémio da Unesco com o seu primeiro livro para crianças.
Quanto a Mumita, " é uma personagem muito interessante", afirmou o koweitiano, "porque vai sempre contra as tendências dominantes."
"Não queria que ela fosse um estereótipo", explicou Naif al-Mutawa. Relativamente ao facto de ser Portugal o país de origem da personagem, a escolha não esteve relacionada com os bons amigos que o autor diz ter no nosso país, que espera ainda vir a conhecer um dia. Na verdade, os 99 super-heróis da ficção de banda desenhada vêm todos de nações diferentes, e de todos os continentes dos globo. A invencível Mumita tornou-se conhecida porque foi a "sexta ou sétima a ser criada", explicou o autor.
Valores universais, diz autor
Com uma ampla distribuição através dos livros de banda desenhada em todo o Médio-Oriente, Sul da Ásia e Indonésia (um milhão de exemplares), e prestes a aparecerem pela primeira vez em milhões de garrafas de água da Nestlé, os super-heróis de Os 99 são uma alusão aos 99 nomes de Alá.
As histórias de Os 99 baseiam-se "em valores culturais relevantes que toda a gente partilha", disse ao DN Naif al-Mutawa. Porque "não há nada de fundamentalmente diferente entre o islão ou qualquer outra crença na Terra."
"Para mim, na verdade, os 99 atributos de Alá são atributos que não apenas os muçulmanos valorizam, mas também toda a humanidade. Valores como a generosidade, a força, a sabedoria, a misericórdia..." Ou seja, "aquilo que estava a tentar fazer era unir-nos, ao invés de nos separar", concluiu o autor da ficção.
In DN