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O IMPERADOR DEPOSTO QUE O CINEMA RECORDOU NUNO GALOPIM
História. Pu Yi, o último imperador chinês, foi coroado a 2 de Dezembro de 1908. Há cem anos começava o derradeiro (e curto) reinado da China imperial, cuja memória foi evocada em 1987 por um filme de Bernardo Bertolucci, baseado na autobiografia publicada em 1964 pelo antigo monarca Portugal partilha com a China uma data na sua história. Em 1908, no mesmo ano em que D. Manuel II subia ao trono - como consequência do regicídio que a 1 de Fevereiro matara D. Carlos e o príncipe real D. Luís Filipe - a China coroava também aquele que seria o seu último imperador. Pu Yi, que governou o seu país entre 1908 e 1911 (mantendo o cargo, embora já sem poderes, até 1924), pode agradecer ao realizador Bernardo Bertolucci, e ao filme O Último Imperador, o facto de hoje ser um dos raros monarcas chineses mundialmente conhecidos.
Pu Yi teve reinado breve. Na realidade, não mandou em ninguém senão na multidão de criados e concubinas que o serviam na Cidade Proibida. Foi figura absolutamente secundária na história chinesa do século XX e era ainda uma criança quando a república foi decretada e o seu poder oficialmente abolido.
Apesar de o seu antecessor, o imperador Guangxu (1871-1908), ter também usado a coroa, o último governante "de facto" da China imperial foi uma mulher: a imperatriz Cixi (1835-1908), que morreu um dia depois de Guangxu e determinou que Pu Yi seria o seu sucessor. Bisneto, por via paternal, do imperador Daoguang (1872-1850), Pu Yi era uma criança quando a velha imperatriz, já à beira da morte, o chamou à Cidade Proibida. Tinha dois anos quando foi coroado, mas quem assegurou os destinos da China foi, até 1911, o seu pai.
Com a abdicação assinada, em Fevereiro de 1912, Pu Yi perdia todo o poder sobre a China, mas mantinham o direito de viver na metade norte da Cidade Proibida e no Palácio de Verão. O Governo republicano atribuía-lhe um orçamento fixo. E, como num teatro sem espectadores, o imperador deposto ali passava o seu tempo. Consigo viveram inúmeros eunucos, que o acompanhavam 24 horas por dia, enquanto comia, dormia, estudava ou brincava.
Em 1917, durante 12 breves dias, o general Zhang Xun restaurou o poder imperial, que rapidamente voltou a cair pela intervenção de outro poderoso militar e pela falta de apoio que a restauração conseguiu pelo país fora. Apesar de ter sido fustigada por uma bomba, a Cidade Proibida voltava à sua rotina palaciana... A calma ali morou por mais sete anos, até ao dia em que a Pu Yi e família foi ordenada a expulsão daquela que havia sido a sede histórica do poder imperial Chinês desde do século XV.
Depois de um exílio de oito anos sob protecção japonesa, Pu Yi viaja em 1932 para a Manchúria, região de onde era natural a sua família. Aí é colocado à frente de um estado independente (incluindo ainda parte oriental da Mongólia), agora com o nome Manchukuo. É frequente ver Manchukuo descrito como um estado-fantoche sob poder japonês. Pu Yi foi coroado imperador do novo estado em 1934, mas o seu estatuto era meramente de fachada. Sem dúvida mais visível que no tempo em que vivera, já sob poder republicano, na Cidade Proibida. Mas efectivamente quase tão despido de poder como nesses dias.
A derrota japonesa na II Guerra Mundial dita o fim do segundo reinado de Pu Yi que, capturado pelo exército vermelho em 1945, é levado a depor pelos seus "crimes de guerra" no ano seguinte. Estaline repatria-o para a China em 1950 e, durante dez anos, vive num centro de detenção. Só sai, depois de declarado "reformado" em 1959.
Regressa à capital. Trabalha no jardim botânico. Depois, como editor. Em 1964 torna-se membro de um órgão oficial. E nesse ano publica a sua autobiografia, livro que, juntamente com Twilight In The Forbidden City (1934), do seu antigo preceptor Reginald Johnston, são importantes depoimentos, na primeira pessoa, sobre a queda do poder imperial na China.
Casado várias vezes (com duas imperatrizes e três concubinas), morreu em 1967 sem deixar descendentes.
In DN