O exemplo de Helmut Schmidt

O EXEMPLO DE HELMUT SCHMIDT


Manuel Queiroz
Jornalista

O mais velho ex-chanceler vivo da Alemanha, Helmut Schmidt, fez ontem 90 anos e por isso muitos jornais têm a sua simpática foto na capa, em muitas com o cigarro na mão, porque o chefe de Governo alemão de 1974 a 1982 continua um fumador inveterado e até em programas de televisão acende o cigarrito, ou em sessões do SPD, o Partido Social-Democrata em que se inscreveu logo após a II Guerra, em que chegou a pertencer ao exército nazi (e foi depois feito prisioneiro pelos ingleses).

"O chanceler eterno", chama-lhe o Weser Kurier, de Bremen (Schmidt é de Hamburgo). O Die Welt, de cuja empresa se tornou director- -geral depois de deixar a chancelaria, após uma moção de desconfiança no Parlamento, põe só uma discreta legenda ao lado da foto e o Sachsische Zeitung fala do chanceler do século.

Schmidt é um exemplo para os dias de hoje a vários títulos, porque era sobretudo um pragmático - quando das terríveis cheias de Hamburgo, em 1962, ultrapassou todos os seus poderes de, então, presidente do Governo regional, de forma a poder dar toda a ajuda às populações afectadas. E foi ele que guiou a Alemanha na fase aguda das dificuldades por causa do primeiro choque petrolífero com um governo muito keynesiano (mas para o final tornou-se mais liberal). O Frankfurter Allgemeine dizia ontem, num perfil sobre ele (com o título O Monumento), que se Konrad Adenauer se define pela integração da Alemanha no Ocidente após a II Guerra e Willi Brandt pela Ostpolitik, Schmidt precisa de mais palavras, porque foi ele que apoiou os mísseis americanos na Europa para a defender da União Soviética, porque esteve envolvido nas bases do que veio a ser o euro, porque teve uma acção muito importante nos Negócios Estrangeiros, na Economia. Mas também no exemplo "até de estar casado a vida inteira com a mesma mulher, Loki", autora de uma das quatro biografias publicadas este ano sobre o estadista e o homem.

In DN