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A lagoa fatal para Muya e Maxpor LUÍS GALRÃO e Isaltina Padrão
Hoje
Saíram das aulas e foram, como sempre, para a lagoa. Um caiu, o outro tentou salvá-lo. Nenhum deles voltouO início de tarde solarengo ditou mais uma paragem de Muya, Max e um grupo de amigos no local habitual das horas de almoço, uma lagoa artificial numa saibreira (pedreira de sabre) desactivada entre o Cacém e Rio de Mouro ( concelho de Sintra). Mas, ao contrário de tantos outros dias, o de ontem ficou tragicamente marcado. Os dois amigos, de 13 e 15 anos, alunos da Escola Secundária Gama Barros, no Cacém, morreram afogados no local de brincadeira.
"Tentei salvar um, mas ele não parava de ir para baixo", contava ainda em estado de choque um outro jovem que assistiu a tudo. A poucos metros, um grupo de adolescentes fez gazeta às aulas para acompanhar a operação de socorro. "São nossos amigos e também cá estivemos de manhã, mas não nos aconteceu nada", explica um deles, também amigo das vítimas.
Os jovens contam que as duas vítimas, Emanuel e Maximiliano (conhecidos por Muya e Max) eram frequentadores do local. "Vínhamos muito para cá, apesar de os nossos familiares não quererem", admite o adolescente. Quanto ao acidente, o jovem de 13 anos conta que primeiro caiu um dos amigos e que o segundo saltou para o ajudar. "Não percebo o que aconteceu, porque costumamos cá tomar banho e nem sequer tocamos com os pés no lodo", diz.
Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém, o alerta de que algo estava a correr mal foi dado pelas autoridades policiais. "Pelas 14.20 recebemos uma chamada da PSP a relatar que dois jovens tinham caído numa lagoa. Accionámos os mergulhadores mais próximos e, apesar de ser uma lagoa pequena, só localizámos o primeiro corpo às 16.45 e o segundo às 17.00", revela Luís Pimentel.
Os primeiros mergulhadores a chegar, apenas às 15.30, foram os da Amadora, seguidos, 15 minutos depois, pelos de Sintra. A primeira intervenção de salvamento foi tentada por uma escavadora da empresa proprietária do terreno, a firma de construção civil Pimenta e Rendeiro, revela fonte da Protecção Civil. A máquina tentou abrir uma vala para esvaziar a lagoa, mas a operação já de nada valeu.
Para o presidente da Câmara de Sintra, Fernando Seara, tratou-se de um acidente "totalmente lamentável", sobretudo "porque a autarquia notificou pessoalmente o proprietário há cerca de três semanas para drenar e vedar a lagoa. Cabe ao Ministério Público apurar responsabilidades".
A lagoa fatal existe há dois anos e era uma preocupação para os moradores da zona. "Fartei-me de avisar, eu e outras pessoas. Só um cego é que não via que isto ia acontecer. Bastava estar bom tempo e isto enchia-se de crianças", lamenta Manuel Cassiano, um morador. Para Ana Gomes, vereadora e eurodeputada do PS que ontem passou pelo local, é mais um caso a revelar o incumprimento das decisões da câmara: "Há um sentimento de impunidade que é desastroso para os munícipes."
Os corpos saíram do local às 17.40, após chegada do delegado de saúde, e foram transportados pela PSP para o Instituto de Medicina Legal de Lisboa, onde foram identificados pelos pais.
In DN