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 Dor de Cotovelo

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MensagemAssunto: Dor de Cotovelo   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Out 29, 2008 5:45 pm

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INSPIRAR CONFIANÇA?

Dor de Cotovelo 270888

Vasco Graça Moura
Escritor

Fica-se deveras atordoado com as inexactidões, generalizações e manipulações da quilométrica entrevista que José Sócrates concedeu ao DN e à TSF. E também com a propaganda torrencial a que ela deu lugar nos telejornais.

Depois, fica-se perplexo com a afirmação de que o PM só raciocina sobre cenários concretos e não sobre cenários hipotéticos. Propende a confundir conversa jornalística com raciocínio e situações dúbias com cenários concretos.

Nestes, inclui "aqueles que estão no Orçamento do Estado", cuja qualificação de realista e prudente é um disparate. E finge não perceber que, face à conjuntura internacional e nacional e ao desenhar-se uma recessão sem precedentes, quaisquer cenários são a tal ponto precários que se tornam hipotéticos! No fundo, o que ele pretende é configurar um ominoso álibi para os insucessos e falhanços que se anunciam inevitáveis...

Não se entende como pode o PM pensar que os projectos de construção de grandes infra-estruturas continuam viáveis, questão que alguém tão insuspeito como o seu ex-ministro das Finanças, Campos e Cunha, escalpelizou há poucos dias num artigo notável do Público.

A relação custo-benefício envolvida por esses projectos deve ser cuidadosamente analisada, como Manuela Ferreira Leite tem reclamado repetidas vezes sem que o Governo se explique. E agora, por maioria de razão, não pode deixar de se considerar uma análise muito rigorosa das condições efectivas de organização, no presente contexto mundial, de consórcios internacionais para os avultadíssimos e onerosíssimos financiamentos necessários.

Afinal, sobre estes aspectos, e ao responder com chavões de estouvada e banal demagogia a questões sobre o TGV, o novo aeroporto, as auto-estradas e as barragens, é o PM quem tem a imprudência de laborar num cenário puramente hipotético e manifestamente irreal. Se fosse atingido o crescimento de 0,6% que ele anuncia (e não vai ser), provavelmente não chegaria para os juros...

Há também inverdades manipulatórias que Sócrates nos propõe tomemos a sério. Por exemplo, a afirmação de que o Governo baixou o deficit orçamental de 6,8% para 2,6%... Aqueles 6,8% correspondiam a um exercício meramente hipotético cozinhado pelo Banco de Portugal em 2005, a pedido do Governo. Fica mal ao primeiro-ministro invocar uma coisa dessas.

Fica-lhe mal dizer que o PSD pretendia tornar obrigatório o investimento em bolsa de um terço dos descontos para a Segurança Social. O que Marques Mendes propôs foi uma reforma em que essa possibilidade seria deixada à opção do beneficiário. Mas Sócrates escamoteia esse aspecto, embora passe logo a referir os 21% investidos em acções do fundo de estabilização financeira da Segurança Social, "que ganhou muito dinheiro no passado" e permitiu alargar a sustentabilidade do sistema, omitindo que a iniciativa da criação desse fundo foi do PSD e não enunciando nenhuma medida (por exemplo, concentração na aplicação em títulos de dívida pública, como acontece em Espanha) para contrariar a actual volatilidade de aplicações que continuam a ser feitas nos mercados accionistas e a perder dinheiro neles com a sua concordância...

Também não lhe fica bem deixar a situação trapalhona do Magalhães por esclarecer e sustentar que os computadores permitem melhorar a aprendizagem das crianças entre os seis e os nove anos, invocando estudos "claros e concludentes", quando é conhecida a irrelevância, quando não o efeito contraproducente, de tais equipamentos nessa fase da aprendizagem escolar.

Estes são apenas alguns exemplos do voluntarismo inconsequente e desastroso de um Governo que diz apostar no desenvolvimento e nem sequer conseguiu dar andamento ao QREN, de modo a que os fundos estruturais começassem a chegar a Portugal em Janeiro de 2007, como tinha sido anunciado, sem que um único cêntimo tenha dado entrada, decorridos que vão quase dois anos... Teria sido interessante ouvir da boca do PM uma interpretação autorizada sobre as razões dessa proeza singular. Ou uma explicação para o facto absolutamente incontestável de que o País chegou ao catastrófico estado em que se encontra muito antes da irrupção da crise actual e por exclusiva obra e graça das governações socialistas.

É por estas e por outras que o que Sócrates diz não inspira confiança a ninguém.

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MensagemAssunto: Chuchar no dedo   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Nov 26, 2008 5:58 pm

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CHUCHAR NO DEDO

Dor de Cotovelo 587515

Vasco Graça Moura
Escritor

Há quem diga que não deve haver censura prévia. Mas parece que na agência Lusa há chefias que entendem o contrário. A ser assim, terão impedido que num serviço noticioso se falasse de estagnação no tocante à economia. Se a maioria está em sintonia óbvia com o Governo, porque é que as chefias da Lusa não haviam de estar no mesmo comprimento de onda? E porque é que o Governo não havia de estar benevolamente interessado nestes processos de recurso a uns eufemismos edulcorantes em serviços noticiosos?

É esse um entendimento pacífico (e não só da Lusa) que, de resto, já se vem manifestando de forma extremamente variada. Por exemplo, há dias, no noticiário da RTP, passando em 14.º (décimo quarto) lugar do alinhamento e em poucos segundos, uma notícia sobre o PSD e Manuela Ferreira Leite.

Ora pela mesmíssima razão, que pode sintetizar-se no célebre princípio patriótico "tudo pelo Governo e nada contra o Governo", há quem entenda que os computadores Magalhães só devem aparecer em público para o primeiro-ministro fazer o seu número, de modo a ficar em destaque a sólida inteligência com que ele alavanca a solução futura dos problemas do País.

E além disso, há todas as vantagens imagináveis em distribuir computadores com problemas de bateria, de modo a terem de voltar ao fabricante, ou em recolhê-los, após a distribuição, com pretextos administrativos, o que vem a dar ao mesmo. Os problemas de bateria nunca são previsíveis. E as questões administrativas nunca podiam ser tratadas antes da distribuição dos pequenos aparelhos. Se o fossem, agravariam as desigualdades, por haver meninos para quem a coisa saía grátis e outros meninos que nada recebiam.

Assim, a economia de escala é sempre assegurada: com ou sem bateria, com ou sem procedimentos administrativos, cada computador acaba por servir para várias visitas do chefe do Governo e para mais entregas esfuziantes de computadores a outras tantas escolas.

O esquema é simples. Pega-se no Magalhães, entrega-se, filma-se para a televisão, recolhe-se e leva-se para outro lado. Faz-se uma negaça à oposição, poupa-se na aquisição de novas unidades, reforça-se a capacidade de exportação para a Venezuela, e assegura-se, numa implícita concessão às vozes críticas, que os meninos e as meninas ficarão a aprender muito melhor sem o aparelho.

O efeito multiplicador da propaganda é notoriamente acrescido. Na propaganda do Governo é que não se pode falar em estagnação e também já não é preciso concentrar a informação no desemprego nos Açores. Chama-se a isto fazer mais com menos. E reconheçamos que, independentemente de se tratar de uma questão de bateria ou de uma qualquer exigência burocrática, seria completamente estúpido e sobretudo descabido em termos de economia nacional e de opinião pública que o primeiro-ministro andasse por aí a entregar-se à dissipação e à liberalidade.

Arriscava-se não apenas a favorecer sem critério famílias em situação desafogada como até a dar azo à prática de perniciosos jogos de computador durante o horário escolar, agora que tantos professores ameaçam com tantos e tão ominosos tresmalhamentos do serviço.

Foi nesta judiciosa perspectiva que o nosso fatal primeiro-ministro foi a Ponte de Lima distribuir o Magalhães às criancinhas da Escola do Freixo e fez a rábula do costume.

Veio a comunicação social, o primeiro-ministro recebeu distraidamente uns beijinhos repenicados e perorou sobre a economia do conhecimento, a comitiva afivelou aqueles sorrisos calinos de quem está a escutar uma Madre Teresa de Calcutá a transbordar regougos de solidariedade, os querubins da escola mostraram-se radiosos na sua alegria infantil em vias de digitalização, os pais ternurentos deram largas ao seu doce enlevo parental, os professores lacrimejaram de gáudio docente e, de tão comovidos que ficaram, mostraram-se quase propensos a aceitar a avaliação decretada pela sr.ª ministra, enfim, toda a gente estava mui complacente e deveras satisfeita, e tudo se fez pelo melhor... E depois, findo aquele pedagógico cerimonial, o Magalhães foi devidamente desligado, fechado e recolhido. Voltou à base e os meninos ficaram a chuchar no dedo.

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MensagemAssunto: Contra ventos e marés   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Dez 10, 2008 6:40 pm

CONTRA VENTOS E MARÉS


Vasco Graça Moura
Escritor

Com razão, José António Saraiva vê uma aliança objectiva entre os interesses do Partido Socialista e os desígnios inconfessáveis dos adversários internos de Manuela Ferreira Leite no Partido Social-Democrata, aliança a que poderíamos acrescentar as sucessivas perversões do jornalismo português a que se têm referido tão expressivamente João César das Neves e José Pacheco Pereira.

O Partido Socialista não tem qualquer interesse na existência e afirmação de uma oposição respeitada e respeitável. Tudo o que contribuir para prejudicar a imagem e a credibilidade dessa oposição, mormente quando ela provenha do único partido que tem condições para lhe disputar o poder, tem o seu apoio, o seu aplauso e o seu empenhamento. Nessas andanças, criam-se derivativos úteis, atenuam-se as tristes figuras que o Governo tem feito e as péssimas performances que tem alcançado, põe-se a crise entre parênteses, distrai-se a atenção do essencial. O Governo está convencido de que, em tempo de vacas magras, tudo o que sirva para fazer transformar a política num circo deprimente e anestesiar a opinião pública é a melhor coisa que lhe podia acontecer.

Por sua vez, os adversários internos que Manuela Ferreira Leite tem no PSD constituem um universo singular. A liderança de qualquer partido sempre teve tensões, oposições internas e fricções mais ou menos latentes e sensíveis. Mas o actual caso do PSD é especial e ultrapassa tudo o que é concebível na matéria.

Há no PSD um núcleo de patriotas indefectíveis disposto a fazer tudo para impedir que o partido leve a melhor nas eleições. Basta ouvi-los na televisão ou na rádio durante alguns segundos, ou lê-los nos jornais ao longo de escassas linhas. É uma gente com alma de criada de servir que só sabe dizer mal da patroa nas lojas da vizinhança. Aposta muito mais venenosamente na desagregação da imagem de Manuela Ferreira Leite e do PSD do que o próprio PS. Está desesperada e disposta a tudo. Todas as semanas se manifesta, sob os pretextos mais idiotas e nas formulações mais ranhosas e rasteiras. E todas as semanas dispõe de larga cobertura de uma comunicação social tão prazenteira a anunciar as suas leituras, quanto superficial e leviana a passar à margem do que é realmente importante ou a analisar o fundo das questões.

É certo que, no PSD, houve sempre uma tendência à formação de núcleos de contestação do poder internamente constituído, mas isso não diminuiu a força do partido ao longo das décadas. A contenção eficaz dos adversários internos até acabou por contribuir muitas vezes para o fortalecimento da posição do próprio líder nos momentos decisivos. Mas o certo também é que aquela contestação nunca atingiu as proporções que se verificam agora, em que a falta de escrúpulos e a vileza se dão as mãos sem olhar a meios.

Ainda no domingo passado, António Barreto observava certeiramente: "Creio que não existe, na recente história política portuguesa, nenhum caso onde sejam tão frequentes a mentira e a traição. Onde a luta fratricida atinja os cumes do assassinato velhaco. Onde o maior prazer é a derrota dos amigos. Onde a maior festa é a morte dos correligionários."

A poucos meses dos actos eleitorais, essas criaturas só pretendem a criação de um vazio em que possam, se levarem a melhor, tomar conta da elaboração das listas de candidatos. Isto já é evidente, mas vai sê-lo cada vez mais na agitação fervilhante das próximas semanas.

Nesse enjoativo cenário, Manuela Ferreira Leite tem de se aguentar, imperturbada e imperturbável, contra ventos e marés. Não só ela tem muito mais categoria do que José Sócrates & Cia., como está na linha dos líderes mais notáveis do Partido Social-Democrata, de Cavaco Silva e de Marcelo Rebelo de Sousa, de Durão Barroso e de Marques Mendes. Tem gabarito para ficar colocada à altura deles e dos desafios que Portugal enfrenta neste momento. Tem convicções, saber, competência e energia. Tem ideias e projectos. Tem, diga-se o que se disser, uma equipa competente. E dispõe de um trunfo muito importante: tem com ela todo o PSD não videirinho.

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MensagemAssunto: O Natal e o Estado Prestamista   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQui Dez 25, 2008 8:22 pm

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O NATAL E O ESTADO PRESTAMISTA

Vasco Graça Moura
Escritor

O problema deste Natal é o de quase toda a gente estar já convencida de que o próximo vai ser muito pior e o de ninguém saber o que fazer para evitar que isso aconteça.

O desânimo instalou-se em muitas caras, como se pode ver nas costumadas reportagens das televisões sobre as compras de Natal ou, entrando nas lojas e nos supermercados, na expressão de muitas pessoas que se cruzam connosco. Está tudo ao desbarato, mas não há dinheiro. Essa perspectiva quotidiana é confirmada pelas sondagens que tentam medir o grau de pessimismo dos cidadãos e as suas expectativas para o ano que vem.

Isto para não falar das novidades e previsões negativas que vão afectando a economia global, das falências, encerramentos e despedimentos em todos os sectores da indústria, do comércio e dos serviços, dos escândalos de que vai havendo notícia, dos seus efeitos de dominó, do desmoronar dos grandes impérios financeiros, das bolsas a encerrarem no vermelho, da estridência das acusações de accionistas, depositantes e aforradores, do desemprego a crescer por toda a parte, da incapacidade de prever a médio prazo, da falta de esperança, sobretudo nos desempregados, da convicção que se vai radicando nas almas de que o pior ainda está para vir.

De facto, sabe-se que o pior está para vir. Até nas economias emergentes, em que tanto apostavam as economias ocidentais, as perspectivas são cada vez mais negras e os riscos cada vez mais preocupantes.

Os especialistas não conseguem analisar a catástrofe em todas as suas variáveis e todos os dias surgem novas e desastrosas surpresas. Pressente-se que a realidade crítica não é ainda conhecida por eles na sua verdadeira extensão e complexidade. O seu saber e a sua experiência soçobram e não se sabe até que ponto terão, eles mesmos, aquela capacidade de inovação que tanto vinham a exigir aos agentes económicos como factor de competitividade.

Os governos não chegarão tão cedo a soluções satisfatórias, em parte por haver interesses contraditórios dos respectivos países e das forças políticas em que se inscrevem, em parte porque essas soluções dependeriam, para terem alguma eficácia, de uma uniforme adopção de medidas à escala global (por exemplo, acabar com os offshores em toda a parte), o que é ainda manifestamente impossível. E é de prever que, sejam quais forem as medidas, haverá também muito quem tente transformá-las num bom negócio.

Por outro lado, se a dimensão da crise se avolumar em termos socialmente insuportáveis, vão certamente agravar-se em idêntica medida os problemas da ordem pública e da segurança de pessoas e bens, não se vendo que esteja assegurado o funcionamento de mecanismos de exercício da autoridade. Pode imaginar-se uma situação como a grega, provocada por gente faminta em vez de o ser por bandos anarquistas, a alastrar à escala europeia, mas já é mais difícil imaginar como é que a sua propagação poderia ser eficazmente contida. Visto o que tem acontecido entre nós, em casos como o do milho transgénico ou o dos criminosos que vêm para a rua pelas razões mais aberrantes, esta é uma daquelas situações que, em Portugal, seriam da ordem da caricatura grotesca.

A crise portuguesa é muito anterior à eclosão da crise internacional. Deve-se à imprudência e à incompetência dos governos do PS. Agravou-se ao longo dos últimos anos por causa disso mesmo. Na sua origem, confluem todas as aselhices e demagogias da governação Guterres desde 1996 e da governação Sócrates desde 2005.

O primeiro-ministro anuncia agora um período de vacas esqueléticas com a mesma convicção indefectível com que, ainda há muito pouco tempo, previa que os tempos socialistas iam ser pingues de enxúndia.

Mas ele é de um surrealismo descabelado e incorrigível. Agora presta-se a prestamista imediato dos funcionários públicos, sem, pelos vistos, perder tempo com a questão dos juros.

O que não o preocupa na mesma medida é o Natal dos desempregados e dos excluídos. Ou o Natal daqueles que têm empregos precários ou mal pagos do sector privado. Estes também têm as maiores dificuldades e também pagam impostos. Nenhum banco lhes dá crédito em condições favoráveis. Acabarão a suportar os juros daqueles empréstimos?

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MensagemAssunto: O BALANÇO, A ENTROPIA FUNERÁRIA E O CAMINHO   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQui Jan 01, 2009 4:41 pm

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O BALANÇO, A ENTROPIA FUNERÁRIA E O CAMINHO

Vasco Graça Moura
Escritor

O verdadeiro balanço político nacional do fim do ano de 2008 é fácil de fazer e cabe em quatro palavras: este Governo não serve! Ao longo dos 12 meses que passaram foi isso exactamente o que ficou demonstrado em todas as áreas.

O Governo não construiu nem apresentou soluções válidas. Pensou tudo em função do ano de 2009 e dos três actos eleitorais que nele hão-de ter lugar.

Alucinado com essa perspectiva, o Governo mostrou ser apenas capaz de propaganda intensiva e descabelada, na comunicação social e fora dela.

Fez promessas e, como de costume, não as cumpriu.

Falhou em toda a linha.

Anunciou melhorias quando as coisas estavam a piorar e depois desculpou-se com as piorias.

Tornou-se uma caricatura de si mesmo, obstinando-se em reivindicar os resultados mais inverosímeis.

Deu o dito por não dito, sempre que lhe apeteceu e com a maior desfaçatez.

Gozou de uma considerável impunidade na comunicação social e na opinião pública.

Na verdade, este Governo andou sucessivamente a desfrutar os portugueses.

E foi tomando conta de sectores-chave, colocando os seus peões em postos fundamentais de comando, chamando a si o controlo de bancos, empresas e projectos de interesse estratégico e estruturante.

Não resolveu um único dos grandes problemas do País, antes contribuiu para que todos se agravassem e para que as soluções venham a sair mais caras.

Não teve prudência, nem coragem nem competência.

Não soube escapar à tentação dos projectos faraónicos que continua a anunciar.

Não soube ouvir mesmo aqueles que lhe es- tão próximos e se mostraram alarmados com essas perspectivas.

Não soube utilizar os fundos europeus, provocando atrasos inadmissíveis na sua aplicação, com o intuito de concentrar tudo no ano eleitoral de 2009.

Não soube estimular o investimento privado, nem modular devidamente o investimento público.

Não soube aliviar a carga fiscal mais pesada e asfixiante da União Europeia, nem diminuir a despesa e o peso do Estado.

Não chegou a nenhum resultado expressivo no tocante à desburocratização e à descentralização.

Não conseguiu tirar Portugal da cauda da Europa de todos os indicadores importantes.

Não soube estimular o tecido empresarial das pequenas e médias empresas, nem encontrar formas de apoio adequado para elas.

Não foi capaz de pensar a solidariedade e a coesão social em função dos aspectos mais graves e chocantes.

Não soube resolver os problemas da Saúde.

Muito menos resolveu os da Educação e do Ensino Superior ou os da administração da Justiça.

Não soube assegurar a segurança de pessoas e bens.

Não foi capaz de elaborar um Orçamento realista e credível.

Da falta de governação prudente e competente, segue-se agora uma muito maior exposição aos efeitos negativos da crise internacional.

O Governo não conseguiu estimular ou desenvolver eficazmente qualquer dos aspectos que poderiam ter tornado o País mais bem preparado para fazer face aos grandes problemas e desafios: educação, inovação, competitividade, qualificação profissional, plano tecnológico, educação ao longo da vida, novas oportunidades. Em todas ou quase todas essas áreas se sucederam as inverdades propagandísticas com amplo patrocínio e descarada participação do Governo.

Não conseguiu sustar nenhum dos aspectos que prenunciaram a crise e se agravaram (e vão agravar ainda mais) a partir dela: encerramento e deslocalizações de empresas, falências, aumento do desemprego, quebra de produtividade, crescimento negativo, desigualdade crescente de rendimentos, risco real de pobreza e de exclusão social, desânimo generalizado.

O catálogo poderia ser levado muito mais longe.

Graças ao Governo, Portugal é hoje uma entropia funerária, isto é, uma medida de avanço para o caos.

É patente que este Governo não serve.

Se não serve, há que substituí-lo o mais depressa possível.

O PSD tem de garantir que isso vai acontecer. De resto, só o PSD tem condições para fazê-lo.

O ano de 2009 abre todas as possibilidades nesse sentido. O balanço de 2008 mostra o caminho para 2009.

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MensagemAssunto: A Deborah   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Fev 04, 2009 11:36 pm

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A DEBORAH

Vasco Graça Moura
Escritor

O Governo divulgou um pomposo documento intitulado "Políticas de Valorização do Primeiro Ciclo do Ensino Básico em Portugal", elaborado por cinco peritos ditos independentes.

O perito português foi nomeado subinspector-geral da Educação em 1.1.2007 e veio a ser nomeado presidente do Conselho Científico para a Avaliação de Professores em 1.11.2008. O CCAP existe na dependência directa do membro do Governo responsável pela área da educação (art.º 134 do DL 15/2007, de 19 de Janeiro). Parece pois tratar-se de um independente que, à data do documento (Dezembro de 2008), estava na dependência directa do Governo!

Este verdadeiro oxímoro dialéctico não impediu o PS, nem o Ministério da Educação, nem o primeiro-ministro (este em plena Assembleia) de garantirem a independência dos peritos.

Mas temos ainda a Deborah.

"A Deborah", assim ternurentamente tratada com a familiaridade dos grandes pelo primeiro- -ministro, como se viu na televisão, escreveu o prefácio. O PM chegou a afirmar no Parlamento que o relatório tinha sido assinado por ela.

A dama é chefe de divisão das Políticas de Educação e Formação da OCDE desde meados de 2007. É uma economista que não publicou até hoje, que se saiba, uma única linha sobre questões de educação a não ser o tal prefácio (ver a lista actualizada do que ela escreveu em http/econpapers.repec. org/RAS/pro105.htm).

Pois a Deborah prestou-se a vir a Lisboa armada em lavandisca promocional só para servir um objectivo do Governo socialista: o de fazer passar a ideia de que se tratava mesmo de um relatório da OCDE.

E diz muito ufana que a avaliação feita "segue de perto a metodologia e abordagem que a OCDE tem utilizado para avaliar as políticas educativas em muitos países membros ao longo dos anos". Vejamos.

Na pág. 26 informa-se que a avaliação teve por base um "relatório abrangente", preparado pelo próprio ministério, descrevendo as medidas e fornecendo muita informação e dados. "Foi estudado antes da visita de seis dias a Portugal de uma equipa internacional para entrevistar os principais actores educativos e visitar um pequeno número de escolas".

De págs. 87 e 88 deduz-se que, em 14 reuniões, os peritos se avistaram com 2 secretários de Estado, 4 elementos dos serviços centrais, 7 dos serviços regionais, 3 do IGE, 4 peritos, 3 coordenadores dos programas de formação contínua de professores, 3 elementos das associações profissionais de professores, 5 coordenadores de escolas do primeiro ciclo do meio urbano e outros 5 do meio rural, 3 membros da Confederação das Associações de Pais, 5 do Conselho das Escolas, 3 do Conselho Nacional de Educação, 4 dos sindicatos e 7 representantes das autoridades locais (Guimarães, Gondomar, Santo Tirso, Amadora, Ourique, Lisboa e Portimão, sendo que "só" seis destas sete autarquias são PS).

De derrear um cristão! Umas 57 pessoas, pelo menos, mais as deslocações e os encontros do Minho ao Algarve, 11 escolas, cinco direcções regionais, tudo isto numa lufa-lufa, tudo isto numa maratona esfalfante, tudo isto sem tempo para fazer chichi, tudo isto em seis dias, seis, num inglês dos intervenientes lusitanos, que se supõe mais ou menos pedestremente técnico, e num português dos quatro peritos estrangeiros, que não pode deixar de ser ágil e escorreitíssimo, para eles terem conseguido perceber e qualificar tanta coisa em tão pouco tempo.

Talvez por isso, a adjectivação seja bastantemente esbaforida: "ambição" e "rapidez" sem paralelo internacional, "ampla melhoria", "excelente relatório nacional" (o tal preparado pelo ministério), "impressionante conjunto de dados", "enorme sucesso" (p. 13), "visão política clara", "elevado conhecimento estratégico", "resposta corajosa e imaginativa" (p. 17), "desenvolvimentos impressionantes" (p. 18), "excelente modelo de formação contínua", "impressionante leque de informação" (p. 19), "liderança decisiva e visionária", "modelo admirável" (p. 44), "grande sucesso", "professores bastante entusiasmados" (p. 47), coisas assim.

Se é assim que a OCDE trabalha, estamos bem aviados! Resta saber quem é que intermediou toda esta batota e quanto é que ela custou.

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MensagemAssunto: Cor de burro quando foge   Dor de Cotovelo Icon_minitimeSeg Mar 23, 2009 11:03 pm

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COR DE BURRO QUANDO FOGE

Dor de Cotovelo Vasco_graca_moura

por Vasco Graça Moura18 Março 200926 comentários

A cada dia que passa, José Sócrates revela as suas fragilidades confrangedoras: é um político mal preparado e enviesado, capaz de má-fé e de manipulação sem limites, arrogante e vaidoso até se dizer chega, sem nenhuma espécie de consistência ou densidade.

Sempre que faz uma alusão a Manuela Ferreira Leite, mistura alhos com bugalhos e não tem escrúpulos em distorcer o sentido de coisas que ela tinha dito. Não se pode contar com ele para um debate sério e muito menos para um combate político leal. Isto, sem falar na falta de originalidade com que capricha em imitar servilmente as inanidades proferidas pelo seu homem de mão Augusto Santos Silva, apaniguado que passa a vida a acusar os adversários de um vazio de ideias do mesmo passo que demonstra que não está propriamente cheio delas.

O primeiro-ministro, rodeado por medíocres criaturas de indefectível servilismo, tem uma fatal vocação para desgovernar, duvidoso mérito emparelhado com medidas e promessas de "retorno absoluto garantido" sistematicamente furadas, entre mentirolas bombásticas e desculpas de mau pagador.

No último congresso do Partido Socialista, ele invocou matérias transcendentes, de suculenta e decisiva importância nacional, que o impediam de se deslocar a Bruxelas para participar na reunião informal de chefes de Estado e de Governo, retendo-o no meigo rebanho dos correligionários que tão acrisoladamente vai pastoreando. Pois aquelas matérias de coturno sublimado revelaram-se afinal tão obviamente "cagativas" que bastou um simples apagão para serem varridas de vez da ordem de trabalhos do conclave.

Sócrates proferiu então aquela frase estarrecedora e napoleónica, destinada a ser gravada a ouro nos manuais de ciência política do futuro ("a nossa legitimidade para estar na Europa começa aqui"). O mesmo sujeito enfático e verboso que se limitou a abordar o tempo de escolaridade e o ensino pré-primário como medidas salvíficas, largou ainda esta pérola requintada: "Aqui, reunidos em Congresso, o PS faz escolhas e toma decisões. É aqui que se discutem as ideias e as propostas políticas que apresentamos aos portugueses." E acrescentou, com aquela convicção feroz de quem se quer fazer passar por uma força da Natureza sem perceber que lhe falta o gabarito: "Nós debatemos, de forma aberta, franca e pública, os problemas do País e as respostas que são necessárias. E é disto que o País precisa e é isto que o País espera de nós."

Viu-se. Houve um debate copioso, aprofundado, fracturante e deveras ensurdecedor. Com tantas ideias e propostas discutidas, com tantas respostas lestas adoptadas, Portugal já não vai para o galheiro.

Faz dó. O PS tornou-se um partido cabisbaixo. E com o PS, o Estado português tornou-se calaceiro e caloteiro. O QREN vai com dois anos de atraso. O funcionamento da justiça pede meças à eternidade. O pagamento das dívidas do Estado às PME continua em ponto morto. Os nomes de amigalhaços e compadres surgem em constelação tentacular, ligados a negociatas e tranquibérnias. As iniciativas sérias, viáveis e eficazes, adequadamente dimensionadas para a natureza e gravidade dos problemas, continuam sem aparecer.

É o Portugal da meia bola e força no melhor das suas águas turvas: umas mediocridades absolutas, umas banalidades sem remédio, uma chocante falta de rigor, uma política trapalhona, uma manipulação permanente e videirinha, umas espertezas saloias, uma teia de rabos-de-palha ainda muito longe do esclarecimento necessário.

Sócrates está-se marimbando solenemente para tudo o que não seja a promoção desenfreada da sua enfatuada pessoa e a sua própria campanha eleitoral.

Incompetente para propor e desencadear quaisquer soluções sérias para o desemprego, a economia, a insegurança, a justiça, a educação, a saúde, etc., etc., é então que se lembra de introduzir o tema da campanha a que chama negra.

Ora quem tanto se autovitimiza com essa rábula da "campanha negra" fica reduzido a fazer, por sua vez, uma campanha cor de burro quando foge. Confere.

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MensagemAssunto: Campanha já perto do nojento   Dor de Cotovelo Icon_minitimeSex Mar 27, 2009 5:33 pm

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Campanha já perto do nojento

por FERREIRA FERNANDES

Desde que a máquina de tecer foi inventada não deve ter havido maior campanha contra um passo em frente.

Os Gato Fedorento já mostraram uma dúzia de utilizações imprevistas para o Magalhães. Bom para aquecer sandes, por exemplo. Os Gato Fedorento estão no seu papel, que é tratar a sociedade com derisão. Jornais, blogues e partidos olharam à lupa o negócio da empresa fornecedora do computador. Fizeram bem, há que não deixar levarem-nos na curva. Já percebo menos a sanha que alguns professores dedicam ao Magalhães. Não como piadéticos (que podem ser como qualquer Ricardo Araújo Pereira), nem como críticos do negócio (que devem ser como qualquer cidadão). Refiro-me à sanha de torpedearem o Magalhães na sua função de primeiro computador das crianças das escolas. Faz- me espécie essa campanha. A farpa de ontem é de uma professora de Benfica que sugere que já há Magalhães no mercado negro, vendidos pelos pais. E deu como prova: quando o computador é necessário na aula, os alunos faltam. Ainda não tinha ouvido essa culpa do Magalhães, levar a faltar a aulas. Desde que a máquina de tecer foi inventada não deve ter havido maior campanha contra um passo em frente.

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MensagemAssunto: O carneiro com batatas   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Ago 19, 2009 10:04 pm

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O carneiro com batatas

por Vasco Graça Moura
Hoje

Dor de Cotovelo Vasco_graca_moura

A subida de umas escassas três décimas no PIB pôs o primeiro-ministro a fazer a festa, a deitar os foguetes e a apanhar as canas de uma maneira tão grotesca que é legítimo nutrir as mais sérias suspeitas quanto a mais essa manobra de autopropaganda governamental, aliás, em sequência e conteúdo, coerente com as patetices, as distorções e as inexactidões do seu artigo no Jornal de Notícias e também com as indignantes elucubrações de Mário Soares, no Diário de Notícias, desesperado por ver o PS em risco de perder as eleições.

Isto explica ainda a canalhice rasteira de quem se atreveu a insinuar, a propósito do caso João Lobo Antunes, que o Presidente da República estaria "feito" com o PSD…

Mas os festejos mediáticos de José Sócrates foram retumbando por aí, durante um dia apenas, ao fim do qual murcharam sem viço nem esplendor como as rosas do poeta francês. José Sócrates, nessas suas costumeiras liturgias do efémero e do inútil, agiu assim para prevenir a bomba do aumento do desemprego, porque só em Setembro se disporá dos elementos para a compreensão dos números do quadro agora apresentado. De resto, parece ser normal que, no mesmo ano, os resultados do segundo trimestre sejam superiores aos do primeiro. E diz-me um amigo economista que o que deveria fazer-se era confrontar os resultados do segundo trimestre deste ano com os do período homólogo do ano anterior, para aí, face à com- paração, se ter forçosamente de torcer a orelha. Além disso, como Manuela Ferreira Leite teve ocasião de salientar, se há uma ligeira melhoria da situação, ela não se deve a qualquer política esclarecida ou a qualquer acção saudável do Governo, que nisso não é tido nem achado nem sabe muito bem o que anda a fazer, mas à evolução da conjuntura internacional e a razões a que de todo somos alheios.

Logo no dia seguinte, as notícias já não permitiam que o Governo embandeirasse em arco. O desemprego ultrapassou com estrondo o meio milhão de de-sempregados e, nesse ponto deveras vergonhoso, José Sócrates, metida a viola no saco, não foi tão lesto nem tão exuberante a analisar a situação… Mas teve ainda esta pérola: o desemprego, comentou, subiu menos do que se esperava. Isto é, o mesmo primeiro-ministro que reivindica como êxito próprio (e, claro está, "esperado") um milagroso crescimento do PIB para que em nada contribuiu, afinal esperava também que a taxa de desemprego fosse ainda mais alta, perorando, na mesma altura, que estamos a enfrentar uma fase de crescimento do desemprego, embora seja agora "mais atenuado" (???) e que isso corresponde a uma certa recuperação da nossa economia. Estas trapalhadas da aberrante dialéctica socrática vêm transcritas no Público de 15.08.2009, por sinal na mesma notícia em que também se afirma estar o emprego "em queda a níveis dos mais elevados da História recente" e se acrescenta uma série de dados evolutivos cada um dos quais é um susto de per si.

É, antes de mais nada, à péssima qualidade da errática governação que temos tido que se deve, por um lado, o aumento exponencial do desemprego e, por outro lado, o aumento da confusão em torno do pseudo-programa eleitoral do PS. Um elenco de medidas que nenhum dos seus subscritores responsáveis tem qualquer intenção ou perspectiva de cumprir, e que ninguém se disporá a ler, não pode ter outra qualificação. Isto é, pode. A de fraude. Porque, sabendo os socialistas à partida que as medidas que prometem não são exequíveis, não fazendo qualquer tenção de se comprometerem realmente com elas, e tendo ainda plena consciência de que o País tardará muitos anos a sair do miserável marasmo em que se encontra por obra e graça dos Governos do PS, propô-las em termos eleitorais não passa de uma vigarice política a que, na devida altura, não faltará o enxundioso carneiro com batatas.

Que haja quem palre gulosamente de absurdas medidas governamentais de investimento público e proclame o seu desapoio ao PSD no preciso momento em que se serve dele, é só uma prova de que a iguaria já circula. Cozinhada com a receita das traquibérnias do PS, vê-la-emos servida em muitas ocasiões. A ASAE não poderá reagir, apesar de se tratar de um caso em que as vitualhas cheiram mal. Resta saber se o PSD foi advertido de tão radical reviravolta no momento de elaboração das listas para as autarquias…

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MensagemAssunto: Exigir a verdade   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Set 09, 2009 10:54 pm

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Exigir a verdade

por Vasco Graça Moura
Hoje

Dor de Cotovelo Vasco_graca_moura

Alguém quererá para primeiro-ministro um sujeito que distorce tudo à medida das suas conveniências?

Na entrevista que deu a Judite Sousa, há uma semana, José Sócrates criticou fortemente Manuela Ferreira Leite e o PSD por quererem disputar as eleições apenas com um discurso e uma palavra, a "verdade". Sendo o discurso político do PSD ancorado nela, José Sócrates teve o descoco de afirmar que "quem se apresenta assim o que pretende é denegrir os outros", isto porque exigir a verdade envolve "a desqualificação do outro", acrescendo, sempre segundo a mesma luminária, ser… verdade que esses que andam sempre com a verdade na boca "são os primeiros a escorregar na primeira esquina".

A lógica destas proposições e do seu encadeamento é verdadeiramente peregrina. Fica-se de boca aberta ante esse espectáculo deprimente de fim de férias, protagonizado por José Sócrates.

Será imaginável que um sujeito que é primeiro-ministro de Portugal há quatro anos e secretário-geral do partido da actual maioria, alguém que anteriormente desempenhou outros altos cargos políticos, não consiga perceber que "dizer a verdade" e exigir que ela seja dita aos portugueses é uma questão crucial da nossa vida política?

Ou, por outras palavras, será de admitir na cabeça de José Sócrates a confusão, aliás de um primarismo confrangedor, entre quem tenha a veleidade de se arvorar como detentor exclusivo da verdade (o que não é certamente o caso de Manuela Ferreira Leite ou do PSD), e quem exige que se fale verdade, custe o que custar? A diferença é que, no primeiro caso, se está no caminho do totalitarismo, enquanto no segundo se formula simples e terminantemente um imperativo moral e político.

Dizer uma enormidade destas e insinuar o que José Sócrates insinuou permitiria concluir, se o levássemos a sério, por um caso de gravíssima iliteracia política, para não dizer analfabetismo, do primeiro-ministro de Portugal.

Será admissível esse grosseiro malabarismo? Alguém quererá para primeiro-ministro um sujeito que distorce tudo à medida das suas conveniências e, nessa distorção sem escrúpulos, é capaz de tudo menos de "falar verdade"?

E será de aceitar que o mesmo primeiro-ministro de Portugal permita a ilação a contrario sensu, de que se posiciona publicamente como um campeão a favor da mentira e da aldrabice, uma vez que critica assim quem defende a verdade a todo o custo? Que manipule escandalosamente tudo o que tem que ver com a crise, que não tenha qualquer respeito pelos adversários, que afirme falsidades descaradas, como a de o PSD querer privatizar a Segurança Social, ou a de Manuela Ferreira Leite achar que "devíamos suspender a democracia por seis meses", ou ainda a de Manuela Ferreira Leite não querer que o Estado faça investimentos? Será normal que confunda programa eleitoral e listas de candidatos? Ou que diga ter Passos Coelho saído das listas por "delito de opinião"?

O homem terá treslido? É claro que pode sempre perguntar-se se ele não percebe que a asfixia democrática começa na manipulação e continua na maneira como a influência socialista se manifesta em relação a situações profissionais no sector público, a interesses empresariais no sector privado, a situações clamorosas na comunicação social e a puras tretas de feira, como no caso do famigerado relatório da OCDE sobre a educação, com a vinda "da Deborah" a Portugal.

Consistirá a verdade de José Sócrates nesses funambulismos mixurucas? Será isso estar "mais preparado", como ele diz, para responder a uma situação como a presente, situação que, de resto, ele foi mostrando ao longo dos meses não ser capaz de perceber e muito menos de atalhar, nas suas consequências para Portugal?

Mas estas perguntas são perfeitamente ociosas. Tudo permite afirmar que José Sócrates tem a plena consciência do jogo turvo que está a fazer. Tendo essa plena consciência, as coisas tornam-se muito mais graves. E não é de crer que o País queira um primeiro-ministro que assim exibe desaforadamente os seus pergaminhos curriculares em matéria de desonestidade intelectual e política…

Quem finge viver em tão alegre inconsciência, para mais tendo andado sucessivamente a iludir os portugueses quanto ao fim da crise, o desemprego, o começo da recuperação e muitos outras questões, não tem qualquer autoridade moral e muito menos política para se pôr a criticar quem exige que seja dita a verdade.

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MensagemAssunto: Exigir a verdade   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Set 23, 2009 3:45 pm

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Exigir a verdade

por Vasco Graça Moura
09 Setembro

Dor de Cotovelo Vasco_graca_moura

Alguém quererá para primeiro-ministro um sujeito que distorce tudo à medida das suas conveniências?

Na entrevista que deu a Judite Sousa, há uma semana, José Sócrates criticou fortemente Manuela Ferreira Leite e o PSD por quererem disputar as eleições apenas com um discurso e uma palavra, a "verdade". Sendo o discurso político do PSD ancorado nela, José Sócrates teve o descoco de afirmar que "quem se apresenta assim o que pretende é denegrir os outros", isto porque exigir a verdade envolve "a desqualificação do outro", acrescendo, sempre segundo a mesma luminária, ser… verdade que esses que andam sempre com a verdade na boca "são os primeiros a escorregar na primeira esquina".

A lógica destas proposições e do seu encadeamento é verdadeiramente peregrina. Fica-se de boca aberta ante esse espectáculo deprimente de fim de férias, protagonizado por José Sócrates.

Será imaginável que um sujeito que é primeiro-ministro de Portugal há quatro anos e secretário-geral do partido da actual maioria, alguém que anteriormente desempenhou outros altos cargos políticos, não consiga perceber que "dizer a verdade" e exigir que ela seja dita aos portugueses é uma questão crucial da nossa vida política?

Ou, por outras palavras, será de admitir na cabeça de José Sócrates a confusão, aliás de um primarismo confrangedor, entre quem tenha a veleidade de se arvorar como detentor exclusivo da verdade (o que não é certamente o caso de Manuela Ferreira Leite ou do PSD), e quem exige que se fale verdade, custe o que custar? A diferença é que, no primeiro caso, se está no caminho do totalitarismo, enquanto no segundo se formula simples e terminantemente um imperativo moral e político.

Dizer uma enormidade destas e insinuar o que José Sócrates insinuou permitiria concluir, se o levássemos a sério, por um caso de gravíssima iliteracia política, para não dizer analfabetismo, do primeiro-ministro de Portugal.

Será admissível esse grosseiro malabarismo? Alguém quererá para primeiro-ministro um sujeito que distorce tudo à medida das suas conveniências e, nessa distorção sem escrúpulos, é capaz de tudo menos de "falar verdade"?

E será de aceitar que o mesmo primeiro-ministro de Portugal permita a ilação a contrario sensu, de que se posiciona publicamente como um campeão a favor da mentira e da aldrabice, uma vez que critica assim quem defende a verdade a todo o custo? Que manipule escandalosamente tudo o que tem que ver com a crise, que não tenha qualquer respeito pelos adversários, que afirme falsidades descaradas, como a de o PSD querer privatizar a Segurança Social, ou a de Manuela Ferreira Leite achar que "devíamos suspender a democracia por seis meses", ou ainda a de Manuela Ferreira Leite não querer que o Estado faça investimentos? Será normal que confunda programa eleitoral e listas de candidatos? Ou que diga ter Passos Coelho saído das listas por "delito de opinião"?

O homem terá treslido? É claro que pode sempre perguntar-se se ele não percebe que a asfixia democrática começa na manipulação e continua na maneira como a influência socialista se manifesta em relação a situações profissionais no sector público, a interesses empresariais no sector privado, a situações clamorosas na comunicação social e a puras tretas de feira, como no caso do famigerado relatório da OCDE sobre a educação, com a vinda "da Deborah" a Portugal.

Consistirá a verdade de José Sócrates nesses funambulismos mixurucas? Será isso estar "mais preparado", como ele diz, para responder a uma situação como a presente, situação que, de resto, ele foi mostrando ao longo dos meses não ser capaz de perceber e muito menos de atalhar, nas suas consequências para Portugal?

Mas estas perguntas são perfeitamente ociosas. Tudo permite afirmar que José Sócrates tem a plena consciência do jogo turvo que está a fazer. Tendo essa plena consciência, as coisas tornam-se muito mais graves. E não é de crer que o País queira um primeiro-ministro que assim exibe desaforadamente os seus pergaminhos curriculares em matéria de desonestidade intelectual e política…

Quem finge viver em tão alegre inconsciência, para mais tendo andado sucessivamente a iludir os portugueses quanto ao fim da crise, o desemprego, o começo da recuperação e muitos outras questões, não tem qualquer autoridade moral e muito menos política para se pôr a criticar quem exige que seja dita a verdade.

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Vasco Graça Moura
por Maria José Ferreira14 Setembro 20092 comentários

Muito embora não esteja de acordo com o conteúdo do artigo de Vasco Graça Moura (DN de 9 de Setembro), o que mais me chocou foi a forma do mesmo. Tinha VGM como um cavalheiro, pessoa de estilo elegante, capaz de afirmar as suas opiniões de forma polida e elevada! Não chegou já o achincalhar da ministra da Educação nos cartazes dos cortejos dos professores, dando um óptimo exemplo aos alunos? Não chega a grosseria com que os deputados se agridem na AR em vez de debaterem ideias e soluções?

E se eu me referisse a Manuela Ferreira Leite dizendo que a "sujeita tem o descoco de dizer que não há asfixia democrática na Madeira"? "A mulher terá treslido?" " Será admissível a surdez com que a dona fingiu não ouvir o Troglodita que se virou para as câmaras dizendo fuck them?".

Se isto é forma de discutir e/ou dissertar, estamos irremediavelmente num país rasca!

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MensagemAssunto: A muita satisfação   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Set 29, 2010 2:11 pm

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A muita satisfação

por VASCO GRAÇA MOURA
Hoje

Dor de Cotovelo Vasco_graca_moura

É verdade que com a crise imediata se cumulam várias outras questões de fundo: na origem do que se passa estão também a desagregação de valores da civilização e da cultura europeias, a preocupação esquerdista de branquear o terrorismo, de ser anti-Israel e anti-Estados Unidos, a perda do sentido da identidade e de qualquer espécie de orgulho, nervo e dignidade nacionais (salvo no tocante ao sacrossanto futebol), a decadência das Humanidades e o desastre do ensino, a desagregação do património e o assassínio da língua, o fim do tão inefável quanto inviável modelo social europeu agora que os norte-americanos já não são o nosso guarda-chuva, o esvaziamento da autoridade democrática do Estado e das instituições, a abolição do serviço militar obrigatório, a permissividade excessiva, a desculpabilização sistemática, a adopção idiota do politicamente correcto, a falta de coragem ou o servilismo de muita gente… Por cá, tudo isso combinado, por junto ou a retalho, com a governação que temos resultou num lindo serviço. E a um lindo serviço seguir-se-á inevitavelmente um lindo enterro.

Já se sabia que o Estado em Portugal dificilmente se comporta como uma pessoa de bem. Mas agora vê-se que está em vias de se tornar um malfeitor. O assalto fiscal aos poucos recursos dos portugueses vai continuar. A cada dia que passa, mais eles sentem que estão a ser roubados pelo Estado do seu país.

E agora, de repente, no palco da política, desatam todos a gritar "- Ó tio! Ó tio!", porque o País não pode passar sem orçamento, porque vem aí o FMI, porque a desgraça está iminente, porque Portugal está na bancarrota e cada dia se afunda mais nela - e lá se vão negócios e compadrios e benesses e subsídios e pensões e rendimentos mínimos e o mais a que se habituou o eleitorado analfabeto e oportunista que em Setembro de 2009 reconduziu o PS ao poder… Se essa gente pensasse um pouco mais e regougasse um pouco menos, talvez as coisas tivessem tomado um rumo diferente na altura própria. Agora é tarde.

Afinal, o que é que se esperava deste Governo, a não ser a impotência mais derrancada e os resultados mais sinistros? O que é que se esperava deste primeiro-ministro, a não ser a pior, a mais inábil e a mais incompetente das chefias do Executivo de que há memória nos últimos 100 anos em Portugal? Não há resposta satisfatória, a não ser que a busquemos na conta redonda de um século.

Só se também foi, exactamente por causa disso, que o mais estúpido eleitorado da Europa deu a vitória ao PS, isto é, para comemorar, de maneira fúnebre, inorgânica e paralela a uma comissão oficial que vai fazendo o que pode com tão fraco pretexto, o centenário da tristérrima República implantada em 1910 por obra e graça de uma pseudo-elite despeitada, tanto monárquica como republicana, de uma tropa dividida e sem dignidade, de um maralhal de marçanos e carbonários, de uma sinistra piolheira popular abaixo de toda a qualificação...

De facto, se o fez para comemorar o centenário da República, o eleitorado que votou PS em Setembro passado conseguiu o que queria. Reinstaurou a balda e o forrobodó e bem pode limpar as mãos à parede. Não vai longe com a celebração. De resto, ninguém pode ir longe com o que se está a passar neste pátrio ninho de patos-bravos, calaceiros e espertezas saloias.

Não tem por isso grande significado qualquer entendimento, explícito ou implícito, que venha a ocorrer entre os partidos políticos. Todos ralham e ninguém tem razão. Uns porque nunca a tiveram. Outros porque entretanto a perderam ou se arriscam a perdê-la. Num país a esboroar-se não há um desígnio estratégico nacional nos partidos. Só há tacticismos eleitorais a curto prazo e todos eles são perdedores.

Este país não tem saída e já não é governável. Nem a bem, nem a mal. Não tem nem vai ter com quê. Não tem nem vai ter por onde. Esqueceu-se de onde vem. Não sabe para onde vai e provavelmente não lhe interessa saber. Perdeu o rumo e um dia destes não conseguirá esboçar sequer um simulacro de independência. E é inconcebível, mas é muito capaz de se sentir bem satisfeito com isso.

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MensagemAssunto: O descrédito   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Out 05, 2011 10:18 am

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O descrédito

por VASCO GRAÇA MOURA
Hoje

Dor de Cotovelo Vasco_graca_moura

Estará em risco a autoridade democrática e portanto a sobrevivência do próprio Estado de Direito? Que meios tem este à sua disposição para fazer acatar as normas que as suas instituições aprovam com respeito de todos os requisitos legais? Ou, por outras palavras, onde está a coercibilidade necessária se for caso disso?

A sociedade civil resvala cada vez mais para a insubordinação, e o sector público, incluindo o castrense e o policial, para lá caminha rapidamente.

Todos os dias se entrechocam os protestos e as declarações de não aceitação das decisões do poder político.

Uma vez que os titulares dos órgãos deste foram democraticamente designados em eleições livres, esta situação corresponderá a uma forma de sabotagem do seu funcionamento, sob a legitimação aparente de um exercício de direitos, sem se atentar em que, se de exercício se trata, haverá um conflito que não pode ser resolvido no sentido imediatista pretendido pelos promotores de tais reacções.

É verdade que a situação é dificílima e ninguém gosta de ter de apertar o cinto. É verdade que esse aperto é indignante e vai ser feito muitos furos acima do que se esperava. Mas se ninguém o aceitar, acabará por ser necessário impô-lo, no falhanço dos diálogos e das concertações. A alternativa é a implosão.

E aí é que está o problema. Todas as áreas e segmentos ligados ao sector público, do funcionalismo às empresas, parecem dispostas a enveredar por uma espécie de desobediência civil, proclamando não acatar cortes, nem imposições internas ou externas, nem nada que possa significar uma redução daquilo que lhes tem sido assegurado e a que chamam direitos adquiridos.

Certas corporações - o funcionalismo da administração pública, os magistrados, os professores, os médicos, os polícias, os trabalhadores das empresas públicas, em especial as ligadas aos transportes, mas não só, todos os dias reclamam, todos os dias vociferam, todos os dias ameaçam.

Na contestação generalizada, o paradoxo é que os que ainda têm emprego, e portanto se encontram numa situação relativamente melhor do que a dos desempregados, parecem dispostos a tudo para agravar o próprio flagelo que pretendem combater. Por este andar, à catástrofe somar-se-á a catástrofe e todos se sentirão mui conspicuamente realizados, mesmo que não escapem a ela.

A verdade é que não é por essa via que Portugal sairá do buraco em que se encontra. Estamos num barco à deriva e que mete água por todos os lados. Ou remamos todos no mesmo sentido, ou vamos ao fundo. E remar requer uma tremenda aplicação de energias, sem privilégios de assento e com a ração diminuída.

Os problemas imediatos da Europa e de um país falido como o nosso não se resolvem com cortejos da ideologia desfilando nas ruas e avenidas e movimentos de massas. Tão pouco se resolvem com bloqueamentos do aparelho de Estado cujos resultados só podem ser negativos.

Como a situação vai piorar, as reacções corporativas tendem a agravar-se. Se não houver autoridade, rapidamente se chegará a uma situação de desregramento e conflitualidade social de consequências imprevisíveis.

Para a solução dos problemas nacionais também não contribuem as pantominas esparvoadas que nos chegam do Partido Socialista, principal responsável pelo estado a que chegámos.

As interpelações que o seu secretario- -geral tem andado a fazer ao primeiro-ministro e à actuação do ministro das Finanças são confrangedoras de inexperiência política, distorção da realidade, demagogia barata e má-fé.

O pedido de audiência ao Presidente da República, a propósito da tragédia financeira da Madeira, é de um singular impudor por parte do mesmo partido que atentou contra os poderes presidenciais constitucionalmente assegurados, exactamente a propósito das autonomias regionais.

Só é de lamentar que o Presidente se tenha prestado a uma audiência inútil: porque não traz nenhum facto novo, porque não o habilita a qualquer intervenção diferente da que tem tido, porque não condiciona o Governo no tocante às medidas a tomar.

O Presidente fica assim confinado ao expediente de propaganda eleitoral de um dos partidos em presença. É pena.

Ao longo dos anos, o PS contribuiu em boa medida para desacreditar e desmantelar a autoridade do Estado e não está a fazer nada para reabilitá-la.

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MensagemAssunto: Um político com crédito   Dor de Cotovelo Icon_minitimeSáb Fev 25, 2012 6:04 pm

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Um político com crédito

por FERREIRA FERNANDES
Hoje

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Há um Santos Silva banqueiro (Artur) e um Santos Silva ex-ministro (Augusto), e foi naturalmente a este que se passou cartão porque o assunto era achincalhar: "Cartões milionários na Defesa", titulou o Correio da Manhã. O Santos Silva não milionário, afinal, era-o... O ministro da Defesa do último Governo tinha dez mil euros de plafond!, gritou o jornal, tão alto quanto o teto do cartão bancário. O CM tem a mais apurada pituitária dos jornais, se fosse escaravelho haveria de se chamar rola-bosta, quem gosta fica bem servido. E assim lá houve mais um episódio de indignação esganiçada. Tudo normal, não fosse o tal Santos Silva não ser dos políticos que quando há suspeitas sobre as suas contas se negam a divulgá-las. A contracorrente do que é norma, o Silva do teto alto, em vez de deixar a suspeita assentar e esquecer, espevitou-a. É certo que começou por dizer, o que podia ser mero truque para protelar a explicação, que do cartão de serviço só gastara em serviço. Oh filho, os fãs do rola-bosta querem é saber se bebeste Petrus à custa do povo... Mas não, o Silva do cartão não estava a protelar coisa nenhuma, tirou a coisa a limpo e exigiu que o Ministério da Defesa tornasse público o que gastara. E ontem soube-se: nos 20 meses em que foi ministro, do seu cartão super-hiper de dez mil euros, Augusto Santos Silva gastou uma média de 147,72 euros mensais. Deixa-me fazer contas: dez mil, manchete; 147 euros, deve dar duas linhas.

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MensagemAssunto: O cardeal e o dr. Zorrinho   Dor de Cotovelo Icon_minitimeQua Jul 25, 2012 1:05 pm

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O cardeal e o dr. Zorrinho

por VASCO GRAÇA MOURA
Hoje

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Conta-se que certa vez, à chegada a Nova Iorque de uma alta figura do Vaticano, houve um jornalista que lhe perguntou se tencionava visitar os clubes nocturnos da cidade. Embaraçada, a eminência tartamudeou qualquer coisa como: " Há clubes nocturnos em Nova Iorque?". E, fatal como o destino, no dia seguinte, lá estava um periódico a pôr na primeira página que essa tinha sido a primeira pergunta do cardeal fulano ao descer do avião...

Sinto-me solidário com o cardeal. Numa entrevista recente, perguntaram-me qual seria a primeira medida, note-se a "primeira medida", que eu tomaria se fosse ministro ou secretário de Estado da Cultura. Respondi que provavelmente seria pedir a demissão. E esclareci que a razão seria a de não me apetecer desempenhar o cargo.

Houve gente que não percebeu a ironia da resposta e a notícia correu célere. Se eu fosse ministro da Cultura, pediria a demissão e pronto, estava tudo dito! O grau de analfabetismo e de precipitação demonstrado pelo estrépito desse citacional alvoroço mostra bem como, no espaço público, há criaturas que não são capazes de ler um texto e de lhe entender o sentido.

Mas isto nada é, comparado à interpretação das minhas palavras feita pelo formidável dr. Zorrinho, facundo ex-deputado socratista e actual deputado segurista. Do alto da sua autoridade exegética, este professor catedrático da Universidade de Évora, doutorado em Gestão, na especialidade de Gestão da Informação, mostrou-se bem menos capaz de gestão da informação do que propício a uma perversa congestão ou indigestão da mesma.

Com efeito, o dr. Zorrinho veio logo à liça dizer com o denodo habitual que eu pedia a demissão do primeiro-ministro. Algumas pessoas, quedando-se perplexas ante esse meu abominável comportamento, telefonaram-me a perguntar o que era aquilo. Eu não sabia e fui ver as notícias. Era verdade. Confirmando que "les portugais sont toujours gais", o dr. Zorrinho tinha proferido a esfuziante acusação.

Fiz então algumas desvairadas conjecturas, até que me pus a pensar cá com os meus botões que a mais plausível era a que passo a expor. Num dos acessos de delírio tremendista que têm vindo a acometer frequentemente os próceres do pensamento e do comportamento socialistas, este dr. pensou assim e, se bem o pensou, melhor o disse: o PM tem as funções de ministro da Cultura; VGM disse que se fosse ministro da Cultura apresentava a demissão; logo, VGM pede a demissão do PM. Fica-se deveras atordoado com o rigor implacável e adamantino do silogismo. Por mim, confesso que tardei a recompor-me.

É claro que já seria grave que o dr. Zorrinho se tivesse esquecido de ler a entrevista antes de se pôr a perorar assim, se não fosse típico dos responsáveis socialistas navegarem na rala espuma dos dias e na mera periferia das questões. Mas se acaso a leu, então as coisas tornam-se assaz caricatas, para um especialista em Gestão da Informação. Não se pode gerir o que não se percebe e o dr. Zorrinho não conseguiu decifrar o sentido daquela parte da minha resposta, para ele, pelos vistos, capciosa e notavelmente obscura, que dizia assim: "Não me apeteceria desempenhar o cargo. É tudo."

E também é muito pior, na medida em que o impagável dr. Zorrinho interpretou a minha falta de apetência pessoal pela pasta da Cultura como crí-tica ao PM, esse PM que, além de ser saudavelmente indiferente aos meus apetites ou desapetites ministeriais, eu elogiei na mesmíssima entrevista num sentido que envolvia o meu evidente apoio à sua continuidade em funções (esta observação é também gostosamente dirigida à célula de canalhas anónimos e filhos de pai incógnito que costumam pôr-se aos uivos com os meus artigos, aqui na caixa de comentários do DN, e a quem da próxima vez terei a justeza de chamar hienas fétidas).

Enfim, mesmo admitindo que o dr. Zorrinho tenha conseguido fazer sem favores o exame de Português da quarta classe, admiro-me de que se tenha alçapremado ao doutoramento e chegado à cátedra. E também me pergunto se é isto o que o PS, principal partido da oposição, tem para propor aos portugueses: distorção e má-fé, falta de senso e de inteligência, oportunismo e manipulação, asneira e mediocridade.

Repito que me sinto solidário com o pobre do cardeal. O que não lhe aconteceria se o dr. Zorrinho se pusesse a citá-lo no dia seguinte?

In DN

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