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Uma família milenar, com dois milhões de descendentes Hoje
Mais de 2.000 anos depois, a família de Confúcio, um dos grandes sábios da China Antiga, é constituída hoje por cerca de dois milhões de pessoas e está espalhada por todos os continentes. O número foi apurado o ano passado, após a última actualização da respectiva árvore genealógica, um processo que, segundo "o regulamento da família", se realiza de 60 em 60 anos, disse à agência Lusa Kong Weizhong, representante da 78ª geração de descendentes de Confúcio (Kong Zi, em chinês).
"Em relação à anterior grande actualização, feita em 1937, no início da invasão japonesa, acrescentámos um milhão e meio de pessoas. Agora são cerca de dois milhões", precisou.
Confúcio viveu no século VI A.C. Durante a década da Revolução Cultural (1966-76), foi considerado um "pensador reaccionário", mas hoje é visto de novo como um "mestre" e a "sociedade harmoniosa" preconizada pela actual liderança é inspirada nos seus ensinamentos.
O organismo oficial encarregue de promover internacionalmente a língua e cultura chinesas, chama-se, aliás, Instituto Confúcio. "Há descendentes de Confúcio em todos os continentes - e só na Coreia do Sul, por exemplo, há 100.000 - mas a maioria vive na China", diz Kong Weizhong, um empresário de 46 anos, formado no Reino Unido.
A última "grande actualização" demorou treze anos. De acordo com "o regulamento da família", a operação deve ser conduzida pelo decano do clã, que neste caso, era Kong Dechang, que se radicou em Taiwan depois do PCC ter tomado o poder no continente, em 1949.
Kong Decheng, nascido em 1920, foi também o último Kong a viver na Mansão Confúcio em Qufu, a terra natal do pensador, e que, entretanto, foi convertida em museu.
Quem conduziu a actualização, "com o acordo de Kong Dechang", foi o seu primo Kong Deyong, actual presidente da Associação Internacional Confúcio e pai de Kong Weizhong: "O meu bisavô e o avo de Kong Decheng eram como irmãos".
Durante a Revolução Cultural - a última cruzada do presidente Mao Zedong, para "aprofundar a luta de classes" e "eliminar as velharias herdadas da antiga sociedade" - guardas-vermelhas destruíram a picareta o túmulo de Confúcio em Qufu.
Menos de 40 anos depois, a "sociedade harmoniosa" defendida pela atual liderança comunista é inspirada nos ensinamentos confucianos e o organismo oficial encarregue de promover internacionalmente a língua e cultura chinesas chama-se Instituto Confúcio.
Em apenas cinco anos, o Instituto Confúcio implantou-se em mais de 80 países, entre os quais Portugal e Brasil, coincidindo com a emergência económica da China e a sua crescente influência internacional.
"A China está muito mais forte e a mentalidade das pessoas mudou mudou", diz Kong Weizhong. Quanto à recuperação política do seu glorioso antepassado, Kong responde: "O partido comunista precisa, realmente, do confucionismo. As pessoas não podem viver sem crenças nem religião".
In DN