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Atentado na Inguchétia revela instabilidade do Cáucasopor LUÍS NAVES
Hoje
O Presidente Yunus-Bek Yevkurov sobreviveu, mas o ataque mostra a facilidade com que actuam os rebeldes islamitas que desafiam Moscovo em toda a região. A instabilidade está ligada à guerra na vizinha Chechénia, mas também ao apoio dado pela Rússia aos separatistas da Ossétia do Sul, na Geórgia.O Presidente da República russa da Inguchétia, Yunus-Bek Yevkurov, foi gravemente ferido num atentado à bomba, ontem, perto da antiga capital deste território, Nazran. O engenho explosivo de 70 quilos estava colocado num carro estacionado na berma da estrada e atingiu em cheio a comitiva do Presidente, matando pelo menos um guarda-costas. Yevkurov, de 45 anos, foi ferido por estilhaços e operado ao fígado, tendo os seus médicos afirmado que se encontra fora de perigo.
O Presidente sobreviveu, mas o atentado revela uma perigosa instabilidade na região. A República da Inguchétia tem meio milhão de habitantes e fica junto à Chechénia, tendo servido de local de refúgio para grupos rebeldes chechenos. Os inguches e os chechenos têm afinidades culturais e religiosas (são do mesmo ramo étnico- -linguístico e ambos muçulmanos). Neste contexto desenvolveu- -se uma rebelião local, cujos contornos são ainda mal conhecidos.
Em Junho de 2004, Nazran foi alvo de um ataque de guerrilheiros, aparentemente chechenos e inguches. Foram atacados 15 edifícios governamentais e morreram 98 pessoas, incluindo numerosos civis. Seguiu-se um período de repressão e estabilização que incluiu uma vasta operação militar há seis semanas. Os resultados foram medíocres, pois entretanto houve dois outros atentados que vitimaram uma juíza e um chefe da polícia.
O Presidente Yunus-Bek Yevkurov, herói do Exército russo, substituíra no final do ano passado Murat Zyazikov, antigo general do FSB (serviços de informação russos), retirado por Moscovo devido ao agravamento da situação interna da Inguchétia. Os métodos musculados de Zyazikov só agravaram a insegurança, que se tornou mais notória após a crise georgiana de Agosto do ano passado.
A Inguchétia está encravada entre a Chechénia e a Ossétia do Norte (ver mapa), mas mantém forte inimizade histórica com a Ossétia, sobretudo ligada aos efeitos da deportação forçada de Estaline dos povos checheno e inguche, no final da Segunda Guerra Mundial. Este processo provocou a morte a dois terços dos deportados.
Quando os sobreviventes inguches regressaram, na década de 50, tiveram dificuldade em recuperar parte dos seus territórios ancestrais, entretanto ocupados por ossetas.
Em 1992, devido a um diferendo territorial, houve uma guerra entre as duas repúblicas que provocou meia centena de mortos.
Para piorar o cenário, a Rússia apoiou no ano passado os separatistas da Ossétia do Sul, na Geórgia, durante a guerra que Tbilissi travou com duas regiões separatistas (Abcásia e Ossétia do Sul). Isto contrasta com a repressão de todas as iniciativas independentistas nas repúblicas russas. Além disso, os inguches temem a união das duas Ossétias (russa e georgiana).
Estas são as velhas complexidades do Cáucaso, agora agravadas pelo militantismo islamita, alimentado por seu turno pela violenta guerra da Chechénia.
As forças rebeldes do Cáucaso parecem não ser exclusivamente chechenas ou inguches. No Daguestão também se nota o aumento da insegurança, o que parece confirmar o fracasso da estratégia russa no Cáucaso, ou a necessidade de uma nova abordagem.
In DN