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Mandela celebra 92 anos com herança sob ameaçapor LUÍS NAVES
Hoje
Dia Internacional Nelson Mandela instituído a partir de hoje pela ONU.Nelson Mandela, Prémio Nobel da Paz e uma das figuras cruciais da história recente de África, celebra hoje 92 anos, festejando na intimidade da sua família, em Joanesburgo. Este será pela primeira vez o Dia Internacional Nelson Mandela, criação recente da ONU que ilustra o carisma do primeiro presidente negro da África do Sul. O aniversário será celebrado em todo o mundo, mas não haverá apenas rosas: a herança política de Mandela está ameaçada.
A fama internacional de Mandela assenta na sua extraordinária carreira política. O ex-presidente é um símbolo da pacificação miraculosa. Após lutar toda a vida contra o regime controlado por brancos de separação racial, o apartheid, e passar 27 anos na prisão, Mandela chegou ao poder num contexto de violência. Em vez de permitir ajustes de contas, lançou uma política de conciliação que desembocou na ideia de Nação Arco-Íris, um projecto de África do Sul multirracial.
Contrariando a prática do continente africano, Mandela só cumpriu um mandato na presidência. O novo regime é democrático, apesar do partido no poder, o ANC, ter dois terços dos eleitos. Em Novembro passado, a ONU decidiu criar um Dia Internacional Nelson Mandela, coincidindo com o dia de aniversário do estadista. A celebração da luta contra a opressão racial e a promoção da paz realiza-se este ano pela primeira vez e logo caiu num domingo. A Assembleia Geral comemorou na sexta-feira, em Nova Iorque, o dia internacional Nelson Mandela, e o presidente da Assembleia Geral da ONU, Ali Abdelssalam Treki, afirmou que o ex-presidente era um ícone e um dos "grandes líderes políticos e morais do nosso tempo".
A África do Sul tem beneficiado desta visibilidade. A organização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2010 teria sido improvável sem a influência do ex-presidente. E o Governo sul-africano tenta garantir para 2011 e 2012 um lugar no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que tem dez membros não permanentes. A África do Sul esteve no órgão máximo da ONU em 2007-2008.
Para muitos observadores, Mandela é uma marca poderosa e vale milhões. Sabe-se que a sua saúde é frágil. Aliás, mesmo em vida, tem havido conflitos em torno da herança económica, sobretudo dentro da família dividida (Mandela teve três casamentos e seis filhos). Nesta matéria, o futuro dependerá muito do testamento do ex-presidente.
A herança política também está sob ameaça. As divisões internas no ANC estão a aumentar e a saúde da democracia sul-africana dependerá cada vez mais de dirigentes sem a grandeza de Mandela.
In DN